Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Tem carro demais em trânsito nas ruas das cidades brasileiras. Somente no Brasil? Não, as urbes do mundo estão no sufoco, o ar é sujo ao extremo, o caos é quase uma constante e a qualidade de vida pede socorro. Porém, tudo leva a crer que em nosso país o problema se agrava, pois a estratégia do governo para incentivar a economia inclui a redução de impostos para veículos novos, além de crédito amplo para os prováveis compradores. Isso atende o legítimo sonho de consumo de muitos patrícios, qual seja o de possuir o carro próprio. Por outro lado, essa política, a longo prazo, faz agravar o problema do excesso de automotores a se moverem nas vias públicas urbanas. Agora, uma notícia chega para preocupar o governo, bem assim as hostes empresariais: em maio, a produção de veículos caiu 20% em relação ao mesmo mês do ano passado. Mas essa notícia compraz os que se preocupam com a pletora de novas máquinas a queimarem combustíveis, a fazerem o que já é ruim se tornar pior, a transformarem as ruas nos locais de castigo dos que precisam se mover de um lugar para outro dentro das cidades. E o que fazer então?
Há algumas experiências no mundo – e aqui no Brasil também – que precisam ser mais conhecidas e adotadas, por conta dos êxitos obtidos. O arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, fez o óbvio, ou seja, priorizou o transporte coletivo, no afã de reduzir o uso individual do carro. Entre outras medidas, ele deu ênfase aos corredores de ônibus, em um projeto que ensejou conforto e pontualidade aos usuários. O modelo da capital do Paraná foi levado para várias cidades do exterior, mas muito poucos seguidores surgiram no próprio país. Li uma ótima matéria, no caderno Ilustríssima da Folha de S. Paulo, edição 29/06/2014, sob o título “O declínio de uma paixão – Poderá o carro tornar-se o novo cigarro?”, assinada pelo jornalista Raul Juste Lores. O autor diz que Lerner chamou o carro de “cigarro do futuro: você poderá continuar a usar, mas as pessoas se irritarão com isso”. Sobre o tema, o escritor, conferencista, empresário e futurista, o australiano Ross Dawson, assim se expressa: “Um dia as pessoas vão olhar para trás e se perguntar como era aceitável poluir tanto, da mesma forma como hoje pensamos sobre o tempo em que cigarro era aceito em restaurantes, aviões e lugares fechados”.
Os Estados Unidos estão na vanguarda com vistas a um futuro com menos automotores. Há uma palavra na língua inglesa – “gadget” –, para identificar qualquer pequeno equipamento ou ferramenta, tais quais os tablets e smartphones. Pois bem, para o jornalista Greg Lindsay, professor da Universidade de Nova York, alguns “gadgets” são capazes de gerar entusiasmo muito maior no público americano do que o suscitado por um novo modelo de carro qualquer. De fato, o eixo da economia dos Estados Unidos se deslocou, haja vista a emblemática falência da cidade de Detroit, berço do esplendor da indústria do carro, que passou de 2 milhões de habitantes nos anos 1970, para 700 mil nos dias atuais. Em Nova York, 60% das viagens são agora em transporte público. O número de jovens que não dirigem no país dobrou entre 1983 e 2013.
A reação ao uso massivo do carro particular, cidades cortadas por seguras ciclovias, passeios e calçadas que permitem andar a pé, praças e parques no lugar das grandes áreas de estacionamento, o bom transporte público a roubar a cena, já começam a virar realidade, o que faz antever um futuro mais feliz para quantos residam em muitos núcleos urbanos ao redor do mundo.
Reitor do UNI-RN
Tem carro demais em trânsito nas ruas das cidades brasileiras. Somente no Brasil? Não, as urbes do mundo estão no sufoco, o ar é sujo ao extremo, o caos é quase uma constante e a qualidade de vida pede socorro. Porém, tudo leva a crer que em nosso país o problema se agrava, pois a estratégia do governo para incentivar a economia inclui a redução de impostos para veículos novos, além de crédito amplo para os prováveis compradores. Isso atende o legítimo sonho de consumo de muitos patrícios, qual seja o de possuir o carro próprio. Por outro lado, essa política, a longo prazo, faz agravar o problema do excesso de automotores a se moverem nas vias públicas urbanas. Agora, uma notícia chega para preocupar o governo, bem assim as hostes empresariais: em maio, a produção de veículos caiu 20% em relação ao mesmo mês do ano passado. Mas essa notícia compraz os que se preocupam com a pletora de novas máquinas a queimarem combustíveis, a fazerem o que já é ruim se tornar pior, a transformarem as ruas nos locais de castigo dos que precisam se mover de um lugar para outro dentro das cidades. E o que fazer então?
Há algumas experiências no mundo – e aqui no Brasil também – que precisam ser mais conhecidas e adotadas, por conta dos êxitos obtidos. O arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, fez o óbvio, ou seja, priorizou o transporte coletivo, no afã de reduzir o uso individual do carro. Entre outras medidas, ele deu ênfase aos corredores de ônibus, em um projeto que ensejou conforto e pontualidade aos usuários. O modelo da capital do Paraná foi levado para várias cidades do exterior, mas muito poucos seguidores surgiram no próprio país. Li uma ótima matéria, no caderno Ilustríssima da Folha de S. Paulo, edição 29/06/2014, sob o título “O declínio de uma paixão – Poderá o carro tornar-se o novo cigarro?”, assinada pelo jornalista Raul Juste Lores. O autor diz que Lerner chamou o carro de “cigarro do futuro: você poderá continuar a usar, mas as pessoas se irritarão com isso”. Sobre o tema, o escritor, conferencista, empresário e futurista, o australiano Ross Dawson, assim se expressa: “Um dia as pessoas vão olhar para trás e se perguntar como era aceitável poluir tanto, da mesma forma como hoje pensamos sobre o tempo em que cigarro era aceito em restaurantes, aviões e lugares fechados”.
Os Estados Unidos estão na vanguarda com vistas a um futuro com menos automotores. Há uma palavra na língua inglesa – “gadget” –, para identificar qualquer pequeno equipamento ou ferramenta, tais quais os tablets e smartphones. Pois bem, para o jornalista Greg Lindsay, professor da Universidade de Nova York, alguns “gadgets” são capazes de gerar entusiasmo muito maior no público americano do que o suscitado por um novo modelo de carro qualquer. De fato, o eixo da economia dos Estados Unidos se deslocou, haja vista a emblemática falência da cidade de Detroit, berço do esplendor da indústria do carro, que passou de 2 milhões de habitantes nos anos 1970, para 700 mil nos dias atuais. Em Nova York, 60% das viagens são agora em transporte público. O número de jovens que não dirigem no país dobrou entre 1983 e 2013.
A reação ao uso massivo do carro particular, cidades cortadas por seguras ciclovias, passeios e calçadas que permitem andar a pé, praças e parques no lugar das grandes áreas de estacionamento, o bom transporte público a roubar a cena, já começam a virar realidade, o que faz antever um futuro mais feliz para quantos residam em muitos núcleos urbanos ao redor do mundo.