http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1119782-criadora-de-insetos-quer-certifica-los-para-dieta-humana.shtml
Talvez você resista, mas o seu neto ainda vai adicionar insetos à dieta alimentar.
A maior demanda por proteína animal fará com que eles entrem no cardápio de grande parte da população mundial em 2050, prevê a Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO).
Uma empresa brasileira já se prepara para os novos tempos. A Nutrinsecta, produtora de grilos, besouros, baratas e moscas, aguarda certificação do Ministério da Agricultura para que seus insetos, hoje usados na alimentação animal, possam ser consumidos por humanos.
O fundador e sócio da Nutrinsecta, Luiz Otávio Pôssas, admite que a barreira cultural é grande, mas não é impossível de ser superada. "Virá com o tempo", afirma.
"Quando eu era jovem, todos achavam um absurdo o hábito japonês de comer peixe cru. Esse preconceito não existe mais", diz o empresário, que criou a cerveja Kaiser e a água de coco Kero Coco.
Insetos para alimentação humana
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Nidin Sanches/Folhapress
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Zootecnista Gilberto Schickler, sócio e responsável técnico da Nutrinsecta, com Grilos Pretos nas mãos
A certificação abrirá um novo nicho de mercado para os insetos, mas, segundo Pôssas, o foco da companhia deve continuar sendo complementos para ração animal.
No entanto, a Nutrinsecta já está montando um quiosque para degustação na fábrica de insetos, em Betim (MG). A empresa contratou um chef de Santa Catarina especialmente para desenvolver pratos como grilo coberto de chocolate --"parece um Bis"--, insetos à milanesa, ou misturados ao macarrão, como um yakisoba.
"As crianças que visitam o nosso projeto sempre pedem para experimentar", diz Gilberto Schickler, sócio da Nutrinsecta e zootecnista.
"Não tenho a intenção de estimular ninguém a consumir insetos. Mas quem quiser comer poderá", diz Pôssas.
EXPORTAÇÃO
Schrickler diz que não será necessário mudar o cardápio do brasileiro para vender insetos a humanos. Ele vê potencial para exportação.
Segundo Pôssas, em mais de cem países os insetos já fazem parte da dieta alimentar. A China é um exemplo.
Os preços, no entanto, ainda estão longe de serem competitivos. A Nutrinsecta vende um quilo de insetos por cerca de R$ 200, em média. "Com escala de produção, esse valor pode cair drasticamente", diz o zootecnista.
O quilo da picanha, corte nobre bovino, é vendido entre R$ 40 e R$ 50 no varejo de São Paulo, em média.
NA RAÇÃO
O interesse de Pôssas pelos insetos começou por causa de sua criação de aves.
Buscando melhorar a alimentação das espécies, financiou uma pesquisa na Universidade Federal de Minas Gerais, que lhe apresentou a proteína de insetos.
De fácil digestão, ela é mais adequada à alimentação das aves criadas em cativeiro e rendeu bons resultados.
Hoje, a Nutrinsecta produz duas toneladas por mês de insetos, vendidos vivos ou desidratados para a empresa irmã MegaZoo, que faz a ração.
A maior parte é processada até virar uma farinha de proteína consumida por aves, peixes, répteis e primatas.
E, se a barreira para levar o inseto à boca é grande, esse farelo de insetos pode ser a saída para a introduzi-los à dieta. O consumo do inseto inteiro será possível, mas a maior demanda será para esse suplemento alimentar em forma de farelo.
Em congresso realizado no início deste ano, a farinha de proteína de insetos foi apontada pela FAO como eficiente no combate à desnutrição.