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Tecnologia orienta programas de conservação de espécies ameaçadas


Sobrevivência de onças, jaguatiricas, lobos-guará e cachorros-do-mato em seus hábitats está cada vez mais condicionada a sistemas de rastreamento por GPS, sinais de rádio e câmeras de alta resolução; custo dos equipamentos ainda é entrave para cientistas


18 de julho de 2011 | 0h 00

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110718/not_imp746247,0.php

Andrea Vialli - O Estado de S.Paulo

A tecnologia tem se mostrado uma aliada importante para a conservação de espécies da fauna brasileira. A sobrevivência de onças, jaguatiricas, lobos-guarás e cachorros-do-mato em seus hábitats cada vez mais está condicionada a sistemas de rastreamento por GPS, radiotelemetria e câmeras de alta resolução.
CENAP
CENAP
Censo animal. Onça-pintada fotografada com armadilha fotográfica no Pantanal
Com essas ferramentas, pesquisadores conseguem descobrir como os animais utilizam o ambiente, seus deslocamentos e hábitos. Além de facilitar a compreensão das relações entre homens e animais, a tecnologia ajuda a determinar áreas para conservação, corredores ecológicos e reflorestamento.
Segundo Rogério Cunha de Paula, biólogo do Centro Nacional para Pesquisa e Conservação dos Predadores Naturais (Cenap), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, o monitoramento de espécies tem servido para intimidar a caça aos animais. "Evitar, não evita. Mas intimida. Em locais onde divulgamos os projetos de monitoramento, a caça teve uma queda severa", diz o pesquisador.
O Cenap usa estudos de radiotelemetria com animais em parques, fazendas e reservas ecológicas. Há pesquisas com onças-pintadas em São Paulo, no Paraná (Foz do Iguaçu), Mato Grosso do Sul (Pantanal) e Bahia. As onças-pardas são monitoradas em Santa Catarina e Minas Gerais (regiões do Triângulo Mineiro e do Parque Grande Sertão Veredas). Os lobos-guarás são pesquisados também em Minas Gerais, no Parque Nacional da Serra da Canastra e também no Triângulo. Já o cachorro-vinagre, mamífero nativo do Cerrado, é monitorado em Mato Grosso. No total, em torno de 30 animais são monitorados pelas diferentes tecnologias.
Conflitos. "Os dados podem ser úteis em planos de manejo que permitam, além da conservação das espécies, evitar conflitos entre produtores rurais e predadores, como onças", explica Marcel Penteado, do Instituto de Biologia da Unicamp.
Ele explica que o monitoramento via satélite pode ajudar a prevenir ataques a rebanhos, por exemplo. "Caso elas estejam sendo monitoradas por GPS, é possível saber se estão se aproximando demais dos rebanhos, orientar os produtores a evitar as áreas mais frequentadas pelos animais", explica Penteado.
O projeto de pesquisa de Penteado realiza o rastreamento de quatro jaguatiricas que usam a mesma área por sinais de rádio, e também duas onças-pardas, uma delas com colar GPS.
"A tecnologia só não é mais usada porque o custo é alto. Como a maioria é importada, os impostos e taxas são o grande fator de limitação para os programas de conservação", diz Cunha.
Um colar com GPS custa, fora do Brasil, em torno de US$ 4 mil. Com as taxas, chega no País por R$ 35 mil. Muitos dos equipamentos hoje em operação foram doados por ONGs, empresas e institutos internacionais, como o Smithsonian Institution, dos Estados Unidos.
No interior de São Paulo, um dos casos mais conhecidos de animal monitorado é o da onça-parda Anhanguera. O animal, atropelado na rodovia de mesmo nome em 2009, foi reintegrado a uma região de remanescente de Mata Atlântica em janeiro. No pescoço, um colar de radiotelemetria.
"Sabemos exatamente onde ele está e que, desde a soltura, está em processo de explorar a região", conta Cristiana Adania, veterinária responsável pelo Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Associação Mata Ciliar, responsável pelo monitoramento do animal.
Com menor custo que os colares de rastreamento por rádio ou GPS, outro recurso tecnológico usado pelos pesquisadores são as armadilhas fotográficas. Existem 400 câmeras com esse objetivo espalhadas pelo País.
PARA LEMBRAR
No primeiro semestre do ano passado, a Prefeitura de São Paulo recebeu uma boa notícia das armadilhas fotográficas montadas nos remanescentes de florestas da cidade: havia pelo menos um casal de onças-pardas no município. Elas vivem na Área de Proteção Ambiental (APA) Capivari-Monos, no extremo sul da cidade.
A informação obtida com a tecnologia rendeu, pelo menos, um fruto concreto. No segundo semestre, uma votação na internet escolheu a onça-parda como animal silvestre símbolo de São Paulo.
ENTENDA OS RECURSOS UTILIZADOS
Radiotelemetria 
Permite o acompanhamento dos deslocamentos dos animais. Os equipamentos mais simples são transmissores de rádio (VHF) acoplados a uma coleira, que emitem o sinal numa frequência específica. O pesquisador vai a campo com uma antena e receptor e localiza os movimentos do animal. É o método mais barato, mas demanda trabalho de campo intensivo.
GPS 
Coleiras com GPS acoplado registram e armazenam várias localizações do animal durante o dia. Estes equipamentos permitem estudos muito detalhados sobre a movimentação do animal. O custo de aquisição é alto, mas o custo operacional é baixo, pois o pesquisador vai menos à campo (apenas para fazer download dos dados registrados no colar ou para conferir dados do GPS).
Armadilhas fotográficas 
São câmeras fotográficas acopladas à sensores infravermelhos. Quando o animal passa na frente do sensor, é fotografado. Elas não dependem de captura do animal e possibilitam estudar vários fatores relacionados à biologia da espécie em questão. No entanto, um bom estudo precisa de no mínimo 30 câmeras (o custo é elevado), podem estragar com a umidade e podem ser roubadas. 




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