Jorge Araujo/Folhapress | |||||
Ao fundo, chaminés de fábricas de cerâmica na pacata cidade de Santa Gertrudes, no interior de São Paulo Cidade pacata tem poluição de Cubatão http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/37452-cidade-pacata-tem-poluicao-de-cubatao.shtml São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2012 Principal problema da região é a grande atividade industrial; área tem o maior polo cerâmico do Brasil
EDUARDO GERAQUE ENVIADO ESPECIAL A SANTA GERTRUDES Sentado em uma esquina na avenida Um, a principal via da pacata Santa Gertrudes, o vendedor de loteria responde sem pensar: "Nossa, a poluição aqui é horrível. Seca a garganta e o nariz". A percepção de Antônio Chelo é agravada pelo fato de ele não morar na cidade. "Sou de Pirassununga. Venho trabalhar com comércio duas vezes por semana", diz. O céu azul e o dia quente de outono podem indicar que o tempo seco é o único responsável pela sensação de desconforto do visitante. Mas dados oficiais da Cetesb, a agência ambiental estadual, mostram o real problema da pequena e muito tranquila Santa Gertrudes (167 km de SP), onde residem pouco mais de 20 mil habitantes. No ano passado, os índices de material particulado (poeira fina, na maior parte dos casos) mostram que, neste item, a cidade tem níveis de poluição semelhantes ao da famosa Cubatão -há décadas, a mais poluída do Estado. Isso faz de Santa Gertrudes a segunda colocada, à frente de todos os grandes centros urbanos, incluído a capital. POLO CERÂMICO O problema existe porque a cidade está no epicentro de um dos maiores polos cerâmicos do mundo. Como as indústrias deste setor trabalham muito com argila, por exemplo, o pó fino acaba se espalhado por todo lugar. Inclusive dentro de nariz, garganta e pulmão das pessoas que vivem ali. Na média, o ar da cidade é classificado diariamente pela Cetesb como inadequado. A escala vai de péssimo, má, inadequado, regular a boa. O ar ruim impacta a saúde de todos os habitantes do local que está contaminado. Crianças, idosos e pessoas com problemas cardíacos ou respiratórios podem, até, sofrer com bastante gravidade. "Moro num bairro um pouco mais alto. Lá dá para ver a poeira fina se espalhando", diz Carolina Rodrigues, dentro do pronto-socorro de Santa Gertrudes, que está ao lado de uma fábrica de cerâmica. "Minha filha sempre tem algum probleminha. Agora, por exemplo, está com conjuntivite", diz, apontando a garota de três anos que está com os dois olhos bastante inchados. Ao contrário de Cubatão, onde existe muita fumaça e vários poluentes na atmosfera, em Santa Gertrudes o pó fino aparece nos detalhes. Ele é praticamente invisível em grande parte do tempo. "Em casa, limpamos tudo de manhã. À tarde está tudo empoeirado novamente. Nasci e me criei aqui, por isso estou acostumado. Nunca tive problema com a poluição", diz Hélio Bernardi Jr., que, como metade da população, trabalha na cadeia da cerâmica. E, portanto, defende com fervor a presença das fábricas. |