Qual o melhor tipo de sacola? Depende. Essa é a conclusão de um estudo brasileiro sobre a produção, o consumo e o descarte de sacolas no País. Após a restrição à distribuição pelo comércio de sacolinhas plásticas em várias cidades, como Belo Horizonte e Jundiaí (SP), esse estudo livra as sacolas do rótulo de vilãs ambientais e afirma que a eficiência de cada tipo delas depende do hábito de cada consumidor.
Quanto mais vezes o consumidor joga fora o lixo de casa, mais indicadas são as sacolas descartáveis, porque podem ser reutilizadas nesse descarte. Já as sacolas retornáveis são indicadas para quem costuma ir muitas vezes ao supermercado, porque aí também podem reutilizar mais as sacolas, sugere o estudo. "Não há uma verdade absoluta. A pertinência depende dos cenários", diz Emiliano Graziano, gerente de ecoeficiência do Espaço Eco, instituição responsável pelo estudo encomendado pela petroquímica Braskem, produtora de resinas plásticas.
A explicação para essa "flexibilidade" está na comparação entre as características dos diferentes modelos de sacola (quantas vezes é utilizada, capacidade de carga, custo, nível de reciclagem, etc) e os impactos gerados ao longo do seu ciclo de vida (consumo de energia e matéria-prima na produção, emissões de poluentes, nível tóxico em aterros, etc). Essa comparação aponta o custo-benefício da sacola em razão de seus danos ambientais.
Na conta dos pesquisadores, as sacolas descartáveis são vantajosas em um cenário considerado de poucas compras (até duas idas ao supermercado por semana). Já em situações de mais compras (mais de três visitas semanais ao supermercado), as sacolas descartáveis só seriam vantajosas se usadas no descarte de lixo ao menos três vezes por semana.
"O plástico não é o grande vilão, sob a análise do ciclo de vida", diz Emiliano. "Há oportunidades em que as sacolas plásticas são mais ecoeficientes no transporte das compras para casa. E há ocasiões em que é melhor usar as retornáveis", acrescenta.
A pesquisa leva em conta oito tipos de sacolas disponíveis no mercado brasileiro, sendo três descartáveis (polietileno tradicional, polietileno de cana-de-açúcar e a aquelas com aditivo biodegradável) e quatro retornáveis (plástico duro, papel, ráfia, tecido e TNT). De todas elas, apenas as de papel não se mostraram vantajosas em relação às demais em nenhum tipo de cenário. O motivo é a baixa capacidade de carga, reúso e reciclagem do papel.
Outro desempenho ruim foi verificado entre as sacolas de tecido, que não apresentaram vantagem significativa em relação aos demais modelos retornáveis. Segundo Graziano, a explicação está no elevado consumo de energia elétrica durante sua produção e na quantidade de terras usadas no plantio do algodão. "O ciclo de vida envolve uma série de fatores, mas esses são os principais", explica.
Políticas públicas
O presidente do Instituto Akatu de Consumo Consciente, Hélio Matar, admite que houve equívoco das cidades que restringiram a distribuição de sacolas pelo comércio varejista, mas afasta a ideia de que houve radicalismos de "ecochatos". "As informações sobre o ciclo de vida das sacolas são insuficientes tanto no Brasil quanto em outros países", afirma. "Mas não considero que houve radicalismo. Essas políticas vieram na defesa de interesses públicos, como problemas de enchentes, poluição visual e danos ambientais". Na sua opinião, o ideal seria reverter essas políticas para a educação, ajudando consumidores a diferenciar as situações em que cada tipo de sacola é a mais adequada.
Ele faz a ressalva, porém, de que a tendência é que as sacolas descartáveis sejam aposentadas em um "futuro sustentável". "Não dá para gastar água, energia e matérias-primas em um produto que depois será jogado no lixo. Esses recursos são limitados e o ideal é investir em bens mais duráveis", pondera.