Kulveer Ranger foi uma atração à parte no C-40, encontro de prefeitos e técnicos de metrópoles realizado em São Paulo, por dois motivos básicos. Elegante, não abriu mão do turbante. Mas também chegou com a credencial de secretário do Ambiente e do Digital de Londres. Para Ranger, a associação das duas coisas faz sentido, porque enfrentar desafios ambientais exige educação, mostrar às pessoas o quanto podem economizar mudando de comportamento. Ele vê nas redes sociais um canal privilegiado para essa divulgação e na geração digital uma potencial criadora de aplicativos verdes. “Vamos dizer: ‘Vocês têm a criatividade. Digam-nos o que fazer.’”
Qual o motivo dessa união entre ambiente e digital?
É uma pergunta que muita gente faz. Veja, há essa enorme explosão da indústria do digital. Andamos por aí com celulares, laptops, tablets. E temos uma nova geração que cria aplicativos, visualizações, transparência, inovação, juventude, empreendedorismo. Por que não colocamos nossos desafios ambientais diante desse universo? “Usem suas novas ideias no trabalho que queremos fazer na área ambiental”.
Num primeiro momento, achei que a prefeitura pretendia atrair a indústria digital por ser uma energia limpa.
Queremos os dois aspectos. Sobre isto que você mencionou, o prefeito quer que Londres seja a capital digital da Europa, se não do mundo. Por outro lado temos uma grande oportunidade hoje, em que estamos tentando fazer coisas em educação ambiental. Tudo gira em torno da informação. Você pode começar a ser mais criativo, abrindo essa informação para as pessoas, a indústria digital. Dizer: “Vocês têm a criatividade. Digam-nos o que fazer com isso.” Queremos manter o que torna Londres especial, como táxis pretos, ônibus vermelhos, mas de forma limpa, sustentável.
Você está começando no cargo, então não tem projetos encaminhados. Mas que tipo de colaboração pode existir?
Tivemos a questão do vulcão islandês, que parou a aviação. Numa conferência, um rapaz me mostrou no celular um aplicativo que tinha criado, só usando dados sobre voos na Europa. Ele mostrou que a redução dos voos teve impacto radical nas emissões. Não é algo que vá abalar o mundo. Mas é visualização. E aí você pode levar essas coisas adiante. Temos toneladas de dados, sobre o tipo de calefação dos imóveis, data de construção. Quem sabe o que as pessoas podem criar a partir disso? Já lançamos uma base de dados aberta com informações coletadas ao longo dos anos. Precisamos dar um passo adiante e criar uma base de dados verdes. Não serão só resultados, mas dados brutos para que as pessoas façam a própria análise e tenham ideias.
Mas como dizer às pessoas que há espaço para inovação?
É uma boa questão. Usamos os novos canais. Em Londres, como em todo mundo, o twitter virou uma coisa enorme. Na semana passada o prefeito fez um chat pelo twitter ao vivo. No ato, 70 mil pessoas ficaram conectadas a ele, diretamente. Depois, com os retwitts, chegou a milhões de pessoas.
É possível fazer, por exemplo, um aplicativo que calcule qual a emissão de carbono de uma pessoa que faz uma rota todos os dias de carro, para estimulá-la a usar o transporte público?
Queremos conversar com pessoas que já são ativas na área digital, porque não podemos fazer tudo. No caso que você mencionou, acho perfeitamente possível passar a mensagem: “Não saia com o carro e economize gás carbônico.” Mas é preciso mostrar quanto dinheiro você economiza, também. Algumas semanas atrás, lançamos uma campanha sobre reciclagem. No ano passado, londrinos economizaram 30 milhões de libras graça à reciclagem. Este custo volta para as pessoas, em taxas mais baixas. E juntamos a esta outra mensagem, ensinando as pessoas a reciclar celulares no bairro delas ou coisas sobre as quais não pensariam, como cabideiros.
Então é preciso associar meio ambiente a dinheiro, ao que a pessoa pode economizar.
Estamos fazendo isso, num programa de 10 mil casas. A média de economia na conta de energia foi de 154 libras por ano.