Pressão dos consumidores sobre a a indústria tem sido fundamental para a preservação da Amazônia
Manaus - As mudanças climáticas e os efeitos das atividades econômicas no meio ambiente têm remodelado o mercado de trabalho nos últimos anos. Neste cenário o conceito de ‘emprego verde’ surge como estratégia inadiável para comerciantes, empresas e tecnologias.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), emprego verde é qualquer atividade com baixa emissão de carbono e que não gere dano ambiental. O Amazonas tem potencial para criar mais de 150 mil empregos verdes em todo o Estado, de acordo com estimativa da Secretaria de Estado do Trabalho (Setrab).
“Por suas próprias características, como a ampla floresta aliada a uma imensa rede de rios, esta região tem mais condições de aproveitar suas potencialidades para gerar postos de trabalho e renda sem agredir o meio ambiente”, avaliou o coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre.
Para o coordenador, a pressão dos consumidores sobre as indústrias está sendo decisiva para mudar antigos conceitos. “Cada vez mais os consumidores estão exigindo produtos e serviços com produção voltados para a preservação ambiental. Basta ver o quanto as empresas trabalham a sua imagem institucional neste sentido. Elas não fazem isto à toa, pois sabem que traz retorno financeiro”, disse.
Para o secretário executivo da Setrab, Adilson Vieira, o setor florestal é o que tem maior potencial de geração de emprego no Estado. “Não estamos falando de madeiras e derrubada de árvores, mas de exploração racional. Temos aí a biomassa para energia, castanha, cipó, frutos em geral entre outros produtos. Neste sentido o Amazonas é disparado o melhor Estado para geração destes empregos”.
Um dos entraves do setor é a falta de investimento em tecnologias e difusão de pesquisas, ressaltou Vieira. “É urgente melhorar nossa infraestrutura. Temos uma série de pesquisas que foram feitas e que os resultados não são multiplicados. Por exemplo: a gente importa sardinha enlatada, mas temos um potencial enorme com pescado que a gente não consegue enlatar nem desidratar. O máximo que conseguimos de avanço é a salga de pirarucu, algo que já era feito há dois séculos atrás”.
O reconhecimento e incentivo das atividades de agriculturas tradicionais são garantias de melhorias e manutenção de empregos, na avaliação de Silas Mesquita, secretária executiva adjunta de floresta e extrativismo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS).
De acordo com Silas, mais de 10 mil famílias atuam em atividades extrativistas que podem ser consideradas empregos verdes. “Há os empregos formais que compreende aquelas pessoas que trabalham diretamente nas indústrias e os empregados indiretos que atuam na coleta e transporte. Neste modelo temos uma usina de castanha em Lábrea que faz o beneficiamento do produto”.
Um dos desafios enfrentados para conservar as atividades extrativistas é a valorização econômica do setor para que os jovens passem a se interessar em sua manutenção.
Não é só no interior do Estado que os empregos verdes têm potencial de desenvolvimento, explicou o secretário Municipal do Trabalho e Desenvolvimento Social, Vital da Costa Melo. “As cooperativas de reciclagem que atuam em Manaus são um exemplo de empregos verdes que podem ser gerados em uma grande cidade como Manaus”, ressaltou .
Melo explicou, ainda, que há investimentos na área rural de Manaus para oferta de produtos agrícolas que abastecem a capital. “Apenas na região do Tarumã-açu (zona oeste) são produzidas mais de 20 toneladas por mês”, observa.
Qualidade da mão de obra é fundamental para o setor
Uma das preocupações do emprego verde no Brasil é a qualidade de trabalho de quem faz parte da cadeia produtiva, avalia o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvetre. “Mais da metade destes trabalhadores não possuem nenhum tipo de proteção social, seja em forma de fundo de garantia ou previdência social porque não possuem empregos formais. É muito bonito que as empresas queiram manter a imagem de protetor da natureza, mas também não deve-se esquecer que os trabalhadores têm direitos a serem preservados”, disse.
Segundo o coordenador do Dieese, há empresas de cosméticos que pagam quantias “ínfimas” por matérias-primas que vão render muito mais recursos no momento da venda destes produtos. “Este é um debate que precisa ser feito. Devemos cobrar também trabalhos decentes com qualidade de vida para os trabalhadores”.
Segundo o coordenador do programa de empregos verdes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Paulo Sérgio Moçouçah, as ações são importantes porque regularizam os trabalhadores e as atividades econômicas.
“Isso é um desafio porque grande parte dos trabalhadores do setor está na informalidade, a própria atividade. Então, todas as medidas que possam impactar favoravelmente no sentido de fazer com que essa cadeia se consolide, se formalize, aumente a renda auferida e o número de empregos formais são importantes”, afirmou o representante da OIT.
No documento ‘Programa Empregos Verdes’, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para que os ‘empregos verdes’ cumpram este papel chave em um desenvolvimento sem exclusões sociais, devem ser empregos decentes que proporcionem rendimentos adequados, proteção social e respeito aos direitos dos trabalhadores e que permitam a estes trabalhadores expressar sua opinião nas decisões que afetarão suas vidas.
Para a OIT, os investimentos no desenvolvimento de conhecimentos técnicos são uma condição essencial para o crescimento sustentável das economias e empresas, mas ainda são pouco aproveitados.
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