No meio da região amazônica, a Natura já contrata 400 pessoas, direta e indiretamente, no seu mais novo complexo industrial. Lá, se processa óleos e compostos tirados de plantas tropicais manejadas por comunidades locais e tradicionais, criando uma economia de floresta em pé. Apesar de pequeno, este contingente de pessoas trabalha numa cadeia produtiva que valoriza o social e preserva o meio ambiente. Eles fazem parte de uma crescente força verde de trabalho estimada em 3 milhões de pessoas no Brasil. Já estudos do Ipea estimam em 16 milhões de postos de trabalho verdes no país.
O complexo será lançado em março e será conhecido como Ecoparque, pois agregará outras empresas formando uma cadeia de produção onde o resíduo de um processo é insumo de outro. E assim fecha-se o ciclo.
Está é a definição de emprego verde: uma ocupação ligada a atividades que preservem o meio ambiente, valorizem o social ou reduzem as emissões de CO2.
Desde 2009, a ONU, por meio da Organização Internacional do Trabalho (OIT) vem criando uma rede para ajudar a fomentar os empregos verdes e incentivar assim o fortalecimento da economia de baixo carbono.
No Brasil, segundo a OIT, um dos grandes celeiros de empregos verdes é o setor sucroalcooleiro, já que usamos grande parte do álcool como biocombustível no Brasil. (É óbvio que este setor tem seus problemas trabalhistas, mas na visão global da OIT a produção de biocombustíveis por si só é verde, pois no resto do mundo o uso de álcool para mover carros é bem menos intensivo).
Mas não é só na agricultura ou no extrativismo que se encontram os empregos verdes. Como já escrevemos aqui, o setor eólico nacional já gerou um estimado 280 mil empregos verdes, pois os postos nos setores de energias renováveis são considerados verdes.
Nos EUA e na Austrália, a grande massa dos empregos verdes vem da instalação de painéis solares fotovoltaicos nos telhados das casas. Aqui, o setor de energia solar engatinha, mas começa a se firmar. O movimento mais recente foi o leilão de energia solar no Pernambuco que resultará na construção de seis usinas com um potencial de cerca de 220MW.
Nas cidades, as grandes oportunidades de empregos verdes estão na reciclagem e na eficiência energética.
O primeiro inclui desde catadores até gestores ambientais e engenheiros. Ao todo, estima-se cerca de 1 milhão de catadores no país. É uma categoria que faz um trabalho essencial, mas que ainda luta por reconhecimento.
A cadeia de reciclagem é complexa, mas vem se profissionalizando à medida que as prefeituras e empresas têm que se adequar à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Um exemplo recente é a licitação de R$1,3 bilhão da prefeitura de Taubaté que prevê altos índices de reciclagem e geração de energia da queima do lixo.
Em eficiência energética, a busca é por engenheiros e técnicos que possam melhorar o consumo de energia dos prédios e do transporte. No setor de construção, há um forte apelo já que 40%das emissões de CO2 vem de prédios em operação. O setor não quer ser mais o vilão.
Melhorar a mobilidade urbana é também vista como uma oportunidade de gerar empregos verdes pela OIT, já que ajuda a reduzir emissões drasticamente. Portanto o número de trabalhadores no setor de transporte público vai crescer.
Existem outras oportunidades como a agricultura urbana e o setor de saneamento básico, com economia e reuso de água.
Engenheiros de todas as áreas, gestores ambientais, biólogos, agricultores, administradores, advogados, catadores e recicladores são todas profissões que serão necessitadas pela economia de baixo carbono.
Existe já uma forte de demanda por pessoas cada vez mais especializadas neste e nos próximos anos.
Por Alexandre Spatuzza