O lixo que era um problema em boa parte do mundo se transformou em solução energética. Existem cerca de 1,5 mil usinas térmicas que queimam resíduos para produzir energia, sendo 800 delas apenas no Japão. O Bloco Europeu, segundo no ranking, tem 542 e os Estados Unidos, 86.
No Brasil, há apenas um protótipo com tecnologia 100% nacional, a Usina Verde, que opera no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Funcionando na capacidade máxima, ela é capaz de produzir energia suficiente para abastecer 15 mil residências, mas o custo ainda é elevado: só o protótipo custou cerca de R$ 50 milhões.
Mais do que produzir energia, o grande benefício é transformar lixo em cinzas. Para cada tonelada de resíduos que entra no forno, saem 120 quilos de material carbonizado. “Essas cinzas podem ser aproveitadas em calçamentos ou base asfáltica para pavimentação de cidades ou pode ir para aterros, ocupando 12% da área que seria ocupada com todos os resíduos”, destaca o presidente da Usina Verde, Mário Amato Neto.
Material orgânico (Arte: Cidades e Soluções)
Outra forma de produzir energia a partir do lixo, o biogás ganha escala. A parte orgânica leva aproximadamente seis meses para se decompor e virar gás metano, que é de fácil combustão. São Paulo foi a primeira cidade do Brasil a aproveitar o biogás como fonte de energia. Depois de 30 anos recebendo diariamente o lixo dos paulistanos, o aterro Bandeirantes devolve agora energia. As máquinas transformam o biogás em energia elétrica suficiente para abastecer 35 mil domicílios da cidade.
Junto com o aterro de São João, o Bandeirantes responde por mais de 2% de toda a energia elétrica consumida em São Paulo, além de gerar receitas extras para o município através dos créditos de carbono. Entre outros investimentos, a prefeitura usou os créditos de carbono dos aterros para construir, no Parque do Anhanguera, uma escola de marcenaria e o maior centro de manejo e conservação de animais silvestres da América Latina.
No Rio, o aterro de Gramacho, que foi o maior da América Latina até junho do ano passado, vai passar a ser o único fornecedor de biogás para uma refinaria de petróleo do mundo. São 70 milhões de metros cúbicos de biogás por ano, o suficiente para abastecer todas as residências e estabelecimentos comerciais do estado do Rio.
Mapeamento do biogás no Brasil
Em 2010, o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, realizou o primeiro mapeamento do biogás do lixo no Brasil. De acordo com o estudo, a quantidade de metano estocada em 56 aterros situados em áreas densamente povoadas seria suficiente para abastecer uma população equivalente ao do município do Rio de Janeiro, que é de 5,6 milhões de habitantes. Para 2020, a estimativa é que a produção supra as necessidades de quase nove milhões de pessoas.
Em fevereiro deste ano, a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) fez um novo mapeamento do biogás do lixo no Brasil, mas a área pesquisada foi menor do que a do Ministério do Meio Ambiente: apenas 22 aterros. Ainda assim, os números são impressionantes: o volume de biogás estocado hoje é suficiente para abastecer de energia 1,67 milhões de pessoas.
Segundo o diretor-executivo da Abrelpe, Carlos Silva Filho, se a capacidade instalada for mantida, será possível abastecer 1,5 milhão de habitantes em 2039, número que pode dobrar se for aplicada a Política Nacional de Resíduos Sólidos. “O que nós pretendemos com esse estudo é mostrar que é possível aproveitar esse biogás, que é viável e economicamente sustentável”, diz Filho.
Para o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, ainda há um universo de negócios a ser explorado para o melhor aproveitamento do gás do lixo, principalmente o uso como combustível para veículos. “Você tem duas utilizações principais para os resíduos: uma delas é gerar gás, a outra é gerar enérgica elétrica. A geração de energia a partir do lixo é cerca de três vezes mais cara que a geração de energia eólica. Já a energia a partir do metano é cerca de 30% mais barata do que o GNV. Portanto, gerar biogás é, a princípio, mais interessante do que gerar energia elétrica com aquele resíduo”, aponta
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