Muito já se fala sobre a importância de andar de bicicleta, tanto para diminuir a poluição do ar como para aumentar a mobilidade urbana. O Ministério das Cidades, no Plano de Mnobilidade por Bicicleta nas Cidades, disse que uma “cidade não pode ser pensada como, se um dia, todas as pessoas fossem ter um automóvel”, e para isso traçou uma série de medidas que podem ser adotadas pelas cidades para serem mais seguras para os ciclistas.
Enquanto a maioria cidades ainda não adotaram ou plano ou outras medidas de incentivo a uma mudança de transporte, vários ciclistas dividem o espaço no trânsito com carros.
Por isso, a Atitude Sustentável chamou três ciclistas, de diferentes cidades do Brasil, para contar sua experiência com a bicicleta. Veja o resultado abaixo, com textos de autoria dos próprios ciclistas:
Curitiba – Rafael Waltrick, jornalista (@rwaltrick)
Ciclista por insistência
Curitiba ainda evoca, pelo menos na imaginação de quem é de fora, o título de cidade mais “moderna”, “sustentável” ou “organizada” do Brasil. A capital paranaense já foi referência em mobilidade urbana, é preciso reconhecer, principalmente no que se refere à implantação das famosas canaletas exclusivas para ônibus – modelo em seguida exportado para outras cidades do país e do mundo.
É no mínimo frustrante, portanto, que essas mesmas canaletas hoje sejam povoadas por ciclistas, que, à revelia da legislação municipal, preferem se arriscar em meio aos ônibus do que junto aos automóveis. A falta de uma rede cicloviária abrangente e interligada – que não sirva tão somente ao lazer – dificulta trajetos rotineiros em Curitiba. Os trechos com ciclovias hoje existentes são poucos e mal conservados.
Quem é ciclista em Curitiba, já sabe. Não há como apenas subir na bike, pedalar e “curtir a paisagem”. É preciso ficar atento. Cuidar de si mesmo, dos motoristas e pedestres – seja espremido nas ruas ou exposto nas canaletas de ônibus que cruzam a cidade.
Talvez por ainda ser inexperiente na cidade – utilizo a bike para ir trabalhar diariamente há cerca de três meses – evito as canaletas e me obrigo a sair de casa com antecedência, para pedalar com calma, ao lado dos carros. Mesmo o perigo, no entanto, não diminui o prazer de estar em cima da bike. A nossa magrela traz tudo isso: bem-estar, economia, autossuficiência, saúde, sustentabilidade.
Comprei a bicicleta justamente para empreender uma viagem de férias sobre duas rodas, em novembro do ano passado. Foram 170 quilômetros percorridos em três dias, de Itapema a Alfredo Wagner, em Santa Catarina. Depois, ela se tornou minha companheira diária, da qual hoje não abro mão. Aos 26 anos, não tenho nem sequer Carteira Nacional de Habilitação (CNH). E, enquanto puder continuar pedalando, não há autoescola que me faça mudar de ideia.
Blumenau – Marlon Souza, diretor da Morphy Agência Interativa
Para pedalar em Blumenau não basta saber se equilibrar nas duas rodas. Mesmo no percurso destinado às bicicletas pedalar na cidade é enfrentar obstáculos. São buracos, desníveis, postes, placas, pontos de ônibus, bueiros, pedestres, carros estacionados. Sem falar que as vezes a ciclovia desaparece do nada bem numa grande avenida.
É preciso muito cuidado para não se envolver em algum tipo de acidente. Nos percursos onde não há ciclovias então, o perigo é ainda maior, especialmente porque as ruas em Blumenau são em sua maioria muito estreitas.
Outro ponto que afeta a segurança do ciclista é a distância que carros em trânsito deixam para os carros estacionados. Fica impossível para o ciclista trafegar sem utilizar a calçada nestes lugares sem ciclovia.
Por muito tempo, Blumenau, cidade de origem alemã, tinha a bicicleta como o principal meio de transporte. Com os avanços tecnológicos, isso mudou e a cidade tornou-se uma das que tem a maior quantidade de carros por habitante no país. Com essa onda sustentável cada vez mais forte, além do trânsito cada dia mais congestionado, muitas pessoas na cidade estão retomando o uso da bicicleta para pequenos trechos na cidade ou para lazer em estradas do interior.
Aliás, Blumenau e suas cidades vizinhas tem uma paisagem que é um convite para o cicloturismo. Apesar da grande quantidade de morros, os passeios pelos bairros calmos ou por cidadezinhas do interior próximas a Blumenau proporcionam um bem-estar sem igual para a mente, até maior do que os benefícios que a bicicleta traz para o corpo.
Diversos grupos na cidade organizam passeios noturnos pela cidade durante a semana, normalmente com cerca de uma ou duas horas, ou em trechos mais longos aos finais de semana, em pedaladas com cerca de 50 km. Sou adepto destes passeios de final de semana, já que o dia-a-dia só me deixa tempo para um corrida de 50 minutos pela manhã.
Manaus – Ricardo Braga Neto (Saci)
Quem quiser pedalar hoje em Manaus vai encontrar uma situação extremamente carente de infraestrutura, muito pior que em outras capitais nacionais, o que acaba aumentando o risco de acontecer algum acidente grave. Isso consequentemente inibe o aumento espontâneo do número de ciclistas que usam a bicicleta como meio de transporte, o que ajudaria muito a reduzir o trânsito, a emissão de poluentes e a superlotação do transporte coletivo. Contudo, em Manaus está acontecendo um fenômeno interessante.
Desde o começo de 2010, existe um movimento chamado Pedala Manaus (http://pedalamanaus.org) criado por estudantes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) para incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte, lazer e esporte. Até poucos meses atrás, era raro ver ciclistas em Manaus pedalando diariamente, mas hoje é possível encontrar muitas pessoas pedalando pelas principais avenidas da cidade, muitas das quais usam equipamentos de segurança, como capacetes, luzes sinalizadoras e luvas.
É nítida a contribuição que o Pedala Manaus está dando para esse expressivo aumento no volume de ciclistas, mas é óbvio que se os governantes investirem em ciclovias, ciclofaixas e bicicletários para garantir segurança e conforto para os ciclistas isso vai contribuir muito aumentar ainda mais o número de bicicletas nas ruas, potencializando a escolha da bike como meio de transporte alternativo, principalmente para distâncias curtas de até 15 km.
Infelizmente as grandes fábricas instaladas no Pólo Duas Rodas não tiveram a iniciativa de fomentar o uso da bike no cotidiano de Manaus, mas isso está prestes a mudar. O Pedala Manaus está em negociação com o Governo do Estado do Amazonas e com a Prefeitura de Manaus para implementar projetos que virão com as obras da Copa de 2014.
Ricardo também já produziu um vídeo para um concurso da Caloi sobre os ciclistas de Manaus:
Veja aqui o Twitter do Pelada Manaus.
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