Para evitar uma possível crise energética no Brasil, o governo propõe que as empresas adotem medidas para reduzir o consumo de energia, como o acionamento de equipamentos de geração de energia durante o horário de pico de consumo. É o caso dos shopping centers e das indústrias.
As declarações foram dadas pelo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, no último domingo (1º). Segundo Braga, o governo, dentro de 60 a 90 dias, deve lançar um programa de eficiência energética para dar mais segurança ao sistema elétrico nacional.
A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) afirma que já procurou o governo para conversar sobre o assunto. "Desde a crise energética de 2001, nos preparamos para esses momentos de sobrecarga no sistema elétrico. Em cerca de sete anos, reduzimos quase 30% do nosso consumo de energia. Fizemos a lição de casa", afirma Glauco Humai, presidente da associação.
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Segundo Luís Augusto Ildefonso, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), a maior parte dos shopping centers do País já adota o uso de geradores nos horários de pico. "É vantagem sair da rede elétrica e usar sua própria energia porque a energia fica mais cara nos horários de consumo. A maioria dos shoppings já faz isso e usa a energia do gerador para as áreas comuns", explica.
Além disso, segundo o diretor da Alshop, o consumo de energia elétrica pelos shopping centers é "ínfimo". " Não compensaria ter geradores muito maiores e potentes, movidos a diesel ou gasolina, que gerariam resultado nefasto para o meio ambiente e não seriam viáveis na relação custo-beneficio", afirma.
O setor rechaça a ideia de alterar o horário de funcionamento dos shoppings para diluir os custos com geradores ou o uso de energia elétrica e se preocupam com o impacto econômico da medida que, caso seja forte, poderia afetar empreendedores e até quadros de funcionários.
"No horário inicial, na parte da manhã, já trabalhamos com carga energética reduzida, com o ar condicionado em potência mais baixo e algumas luzes apagadas. Sentimos que a redução energética não compensaria, nem de longe, os gastos sociais que teríamos para fazê-la", diz Humai.
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"Isso precisaria ser muito bem estudado em relação a receita de vendas. Tirando os finais de semana, os melhores horários para os lojistas são a hora do almoço e o final da tarde, até às 20h30. Tem que ter um estudo extremamente bem feito pra que não prejudique a rentabilidade dos lojistas e dos shoppings, pois esse seria um problema grave dentre todos os outros que o comércio já vem assumindo por normas que são postas por governos estaduais ou federais", afirma Ildefonso.
No caso da indústria, Carlos Bich Pastoriza, presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), afirma que a medida precisa de mais planejamento. "Nem todas as indústrias possuem geradores e as poucas que possuem geralmente têm equipamentos que suprem a necessidade de lâmpadas e coisas menores, mas que não movimentam uma fábrica. Adquirir um gerador mais potente é caro e leva tempo", explica.
Procurada, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo não se posicionou até o fechamento desta reportagem. A Confederação Nacional da Indústria não quis comentar o assunto que, segundo a assessoria de empresa, "está em análise".
Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo de energia no setor de comércio e serviços liderou mais uma vez a expansão do consumo de energia em 2014, com aumento de 7,3%. Em alguns períodos do ano, houve a influência de altas temperaturas - durante o verão desse ano, foram registrados crescimentos entre 8% e
16%, na comparação com os mesmos meses de 2013. Já a indústria reduziu seu consumo em 3,6% no período.