A exposição à radiação teria sido significativa no Japão
A Autoridade de Segurança Nuclear da França (ASN) informou nesta terça-feira que as explosões ocorridas na central japonesa de Fukushima Daiichi atingiram o nível seis de gravidade em uma escala internacional que vai até sete.
O Japão, até o momento, classificou os acidentes em nível quatro.
O nível sete da chamada escala INES, de classificação de eventos nucleares, utilizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), só ocorreu uma vez no mundo, na catástrofe de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
"Estamos em uma situação diferente da observada ontem. É evidente que estamos em um nível seis, que é um nível intermediário entre o (acidente) que ocorreu na central americana de Three Mile Island (em 1979) e em Chernobyl", afirmou nesta terça o presidente da Autoridade de Segurança Nuclear francesa, André-Claude Lacoste.
O nível seis da escala INES significa "acidente grave, com liberação importante de material radioativo que exige a aplicação integral das medidas previstas (como cuidados sanitários e afastamento da população da área atingida)".
'Catástrofe'
Na segunda-feira, a ASN francesa havia informado que o acidente na central de Fukushima Daiichi, situada a cerca de 250 km de Tóquio, se situaria entre o nível cinco e seis.
"Estamos em uma catástrofe evidente", disse Lacoste nesta terça-feira. A França possui o segundo maior parque nuclear do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com 19 usinas e 58 reatores que produzem 80% da energia elétrica do país.
As autoridades japonesas haviam classificado no último sábado, após a explosão do reator número 1 da central de Fukushima, o incidente em nível quatro, que representa "acidente, com exposição da população à radioatividade dentro dos limites autorizados".
"A liberação de material radioativo é significativa, mesmo que ainda seja difícil medir isso. A situação não tem nada a ver com Chernobyl, mas sabemos que a radiação é importante", disse à BBC Brasil Jerôme Joly, especialista em segurança nuclear do Instituto de Radioproteção e Segurança Nuclear (IRSN) da França, organismo técnico que trabalha em conjunto com a agência nuclear francesa.
A ASN francesa disse à BBC Brasil que não poderia se pronunciar sobre o fato de a agência de segurança nuclear japonesa ainda não ter aumentado o nível de gravidade das explosões em Fukushima, afirmando que as autoridades nipônicas "deverão rever a classificação" e que isso será discutido no âmbito da AIEA.
Os especialistas franceses em energia nuclear afirmam que suas conclusões sobre a gravidade da situação em Fukushima são baseadas em informações transmitidas pela agência nuclear japonesa, pela AIEA e por representantes da embaixada da França em Tóquio.
Segundo Lacoste, a cápsula de confinamento (que protege o núcleo para evitar contaminações radioativas) do reator número dois de Fukushima, que explodiu nesta terça-feira, no horário local, "não está mais vedada".
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ACIDENTE É ACIDENTE, INDEPENDE DE TSUNAMIS E TERREMOTOS
Brasil cria grupo interministerial para acompanhar crise nuclear no Japão
15/03/2011 19h24 - Atualizado em 15/03/2011 20h13
Autoria e fonte: http://g1.globo.com/tsunami-no-pacifico/noticia/2011/03/brasil-cria-grupo-interministerial-para-acompanhar-crise-nuclear-no-japao.html
Terremoto e tsunami provocaram incêndios e vazamento em usina japonesa.
Segundo ministro, protocolos de segurança do Brasil serão reavaliados.
Autoria: Iara Lemos
Do G1, em Brasília
O governo criou nesta terça-feira (15) um grupo interministerial para acompanhar a crise nuclear no Japão (veja vídeo ao lado), causada por incêndios na usina de Fukushima Daiichi devido ao terremoto e ao tsnunami que atingiram o país, afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.
Segundo o ministro, o objetivo é que o grupo faça acompanhamento constante das medidas internacionais de segurança que devem ser tomadas pós o acidente no Japão. “Não temos problema nenhum de rever práticas, protocolos, nem políticas para manter a segurança das nossa usinas”, afirmou o ministro.
Mercadante afirmou que não há nenhum tipo de registro de problema nas duas usinas nucleares instaladas no Brasil – Angra 1 e Angra 2 –, mas disse que as medidas de segurança serão reforçadas.
“Vamos reavaliar, no âmbito da CNEN [Comissão Nacional de Energia Nuclear], todos os protocolos que são seguidos e vamos tomar todas as medidas necessárias para garantir de forma ainda mais rigorosa o bom uso da energia nuclear”, afirmou o ministro Aloizio Mercadante.
A CNEN, que é ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, não descarta ampliar a área de isolamento em torno das usinas nucleares situadas em Angra dos Reis, disse o presidente do CNEN, Odair Dias Gonçalves.
Segundo ele, a área de isolamento poderia ser elevada dos atuais 5 quilômetros, distância atualmente exigida pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), para 30 quilômetros, dependendo de novas recomendações que possam ser feitas pelos órgãos internacionais.
Mercadante afirmou que o sistema brasileiro de segurança é superior ao japonês. "O sistema brasileiro e o japonês têm diferenças importantes, entre elas o sistema de refrigeração. No Brasil, o sistema é independente. No Japão, não tem a mesma qualidade da defesa que Angra 1 e Angra 2", afirmou.
O Brasil não tem um plano de contingência para esvaziar a cidade de Angra dos Reis caso problema semelhante ao da usina japonesa de Fukushima 1 ocorra.
Em compensação, os reatores nucleares do país são de um tipo mais moderno do que os da usina avariada -e têm menor chance de falha.
O plano de emergência de Angra estabelece retirada da população -12 mil pessoas no total- num raio de 5 km das usinas, o mínimo exigido pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Segundo Odair Dias Gonçalves, presidente da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), uma remoção em 20 km, como a feita no Japão, "começa a pegar a cidade de Angra e é mais complicada". Ele disse que o governo "vai pensar" em revisar o plano de emergência "de acordo com os dados que recebermos [sobre o Japão]".
Apesar da deficiência na remoção, as usinas no Brasil têm elementos de segurança que Fukushima 1 não tem.
O primeiro é geológico. "O Brasil está no meio de uma placa tectônica que se afasta de outra, o Japão está na borda de duas placas em colisão", afirmou Leonam Guimarães, da Eletronuclear.
O segundo é técnico. Tanto Angra 1 quanto Angra 2 e 3 são reatores de água pressurizada (chamados PWR, em inglês). Já os de Fukushima 1 são de água fervente (BWR).
"Reatores PWR têm mais barreiras contra liberação de radioatividade", diz Aquilino Senra, professor de engenharia nuclear da Coppe-UFRJ.
O físico nuclear José Goldemberg, da USP, diz que o problema dos reatores nucleares de ambos os tipos é depender de um fator fundamental: se a água para de circular, as barras de combustível derretem. "Basta um defeito numa válvula. Dizer que Angra é seguro porque não tem tsunami é bobagem."
Saiba mais: Os riscos para a saúde de um desastre nuclear como o de Fukushima
Autoria e fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/03/110315_japao_qa_pu.shtml
Técnicos checam nível de radioatividade em moradores perto de usina
Após uma terceira explosão em um de seus reatores nucleares, a usina da Fukushima Daiichi, no Japão, começou a deixar escapar radiação em níveis que se aproximam do preocupante, alertaram nesta terça-feira as autoridades japonesas.
Leia a seguir sobre a seriedade do incidente nuclear e o risco destes vazamentos para a saúde no Japão e nos países vizinhos.
Qual é a escala do vazamento de material radioativo?
O governo japonês afirmou que os níveis de radiação após as explosões na usina de Fukushima podem afetar a saúde humana. Foram detectados níveis de radiação mais altos ao sul da instalação. Moradores que vivem em um raio de 30 km da usina foram aconselhados a deixar suas residências ou permanecer em casa a portas fechadas para evitar exposição. Em Tóquio, os níveis estariam acima do normal, mas sem apresentar riscos à saúde. Na segunda-feira, as autoridades em Fukushima haviam informado que 190 pessoas foram expostas a radiação e um navio militar americano, o porta-aviões USS Ronald Reagan, havia detectado baixos níveis de radiação a uma distância de 160 km da usina de Fukushima.
O vazamento pode se espalhar para os países vizinhos?
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) descreveu o vazamento como um evento de nível quatro em uma escala internacional, o que significa um incidente "com consequências locais". Na Rússia, por exemplo, não foram detectados níveis anormais de radiação e por ora o problema não representa um problema para outras partes do mundo.
Que tipo de material radioativo escapou?
As informações são de que houve vazamento de isótopos de césio e iodo nas redondezas da usina. Especialistas dizem que seria natural haver também um escape de isótopos de nitrogênio e argônio. Mas não há evidências de que tenham escapado plutônio ou urânio.
Técnicos se protegem contra radiação em área perto da usina
Qual é o risco destas substâncias radioativas para a saúde?
Em um primeiro momento, a exposição a níveis moderados de radiação pode resultar em náusea, vômito, diarreia, dor de cabeça e febre. Em altos níveis, essa exposição pode incluir também danos possivelmente fatais aos órgãos internos do corpo. No longo prazo, o maior risco do iodo radioativo é o câncer, e as crianças são potencialmente mais vulneráveis. A explicação para isso é que, nas crianças, as células estão se multiplicando e reproduzindo mais rapidamente os efeitos da radiação. O desastre de Chernobyl, em 1986, resultou em um aumento de casos de câncer de tireóide (região em que o iodo radioativo absorvido pelo corpo tende a se concentrar) na população infantil da vizinhança da usina.
Há prevenção e tratamento?
Sim, é possível prevenir o problema com pastilhas de iodo não-radioativo, porque o corpo não absorve iodo da atmosfera se já estiver "satisfeito" com todo o iodo de que necessita. Especialistas dizem que a dieta dos japoneses já é rica em iodo, o que ajuda na prevenção. Césio, urânio e plutônio radioativos são prejudiciais, mas não atacam nenhum órgão do corpo em particular. O nitrogênio radioativo se dissipa em segundos após a sua liberação, e o argônio não apresenta riscos para a saúde.
Como se deu o vazamento do material radioativo?
A usina de Fukushima teve problemas com o sistema de resfriamento de seus reatores, que superaqueceram. A produção de vapor gerou um acúmulo de pressão dentro do reator e a consequente liberação de pequenas quantidades de vapor. Para especialistas, a presença de vapores de césio e iodo – que resultam do processo de fissão nuclear – sugere que o invólucro de metal que guarda alguns dos bastões de combustível pode ter se quebrado ou fundido. Mas o combustível de urânio em si tem um altíssimo ponto de fusão e é improvável que tenha se liquefeito, e ainda mais improvável que tenha se convertido em vapor.
Apesar de alarme, especialistas dizem que 'novo Chernobyl' é improvável
De que outras formas pode haver vazamento?
Como plano de contingência, os técnicos estão usando água do mar para resfriar os reatores. Na passagem pelo reator, esta água é contaminada. Ainda não está claro se o líquido ou parte dele foi liberado na natureza.
Quanto tempo vai durar a contaminação?
O iodo radioativo se dissipa rapidamente e a estimativa é de que a maior parte terá se dissipado em um mês. O césio radioativo não permanece no corpo por muito tempo – a maior parte terá saído em um ano. Entretanto, a substância fica no ambiente e pode continuar a representar um risco por muitos anos.
Pode haver um desastre nos moldes de Chernobyl?
Especialistas dizem que essa possibilidade é improvável. As explosões ocorreram do lado de fora do compartimento de aço e concreto que envolve os reatores, que aparentemente permanecem sólidos. Foram danificados apenas o teto e os muros erigidos ao redor dos compartimentos de proteção. No caso de Chernobyl, a explosão expôs o núcleo do reator ao ar. Por vários dias, seguiu-se um incêndio que lançou na atmosfera nuvens de fumaça carregadas de conteúdo radioativo.
Pode haver uma explosão nuclear?
Não. Uma bomba nuclear e um reator nuclear são coisas diferentes.
Folha explica acidentes nucleares e seus riscos à saúde humana
A repórter de Ciência da Folha Sabine Righetti e a coordenadora de medicina nuclear do laboratório Fleury, Paula Smanio, explicam no vídeo acima como ocorrem os acidentes nucleares e os efeitos da exposição à radiação.
Crise no Japão tende a inviabilizar energia nuclear
A energia nuclear tende a se tornar economicamente inviável por conta da reavaliação da segurança dos reatores atômicos forçada pela crise desencadeada pelo terremoto seguido de tsunami de 11 de março no Japão, opinou o professor e físico nuclear José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).
"Vai haver uma reavaliação dos programas nucleares em praticamente todos os países onde se faz uso desse tipo de energia. Vai ser feita uma análise profunda, uma auditoria completa da segurança dos reatores. E o resultado disso será uma coisa perversa. Vão ser introduzidas novas medidas de segurança que tornarão os reatores mais caros ainda e, consequentemente, menos competitivos", avaliou o físico.
Para chegar a essa conclusão, Goldemberg traçou um paralelo entre a crise nuclear japonesa e o desastre na usina de Chernobyl, Ucrânia, em 1986. "Isso já aconteceu com a indústria nuclear a partir de Chernobyl. A partir do acidente em Chernobyl praticamente não se construiu mais usinas nucleares porque as medidas de segurança introduzidas encareceram demais o custo da energia nuclear. O quadro atual tende a inviabilizá-la por razões econômicas".
Segundo ele, há propostas para o desenvolvimento de novas gerações de reatores nucleares, mas os modelos mais modernos são todos experimentais até agora. "Não há experiência industrial, então depende um pouco de fé. O fato é que eles certamente serão mais caros e só vão ser realmente testados diante do mundo real", salientou o físico.
Tecnologia
Goldemberg declara-se cético, no entanto, com relação ao surgimento de uma tecnologia revolucionária no campo da energia nuclear. "Por conta da natureza do reator nuclear, pelo fato de se precisar retirar o calor de algum lugar, eu duvido que isso realmente venha a acontecer no futuro próximo".
E explica: "Reatores nucleares dependem criticamente de circulação de água para resfriar o núcleo do reator. Portanto, um acidente com o sistema de circulação de água pode derreter o núcleo do reator. É intrínseco do reator ter o sistema de resfriamento. Agora se discute muito a possibilidade de se fazer reatores mais avançados e mais bem protegidos, mas não existe proteção completa porque sempre terá de haver algum esquema de resfriamento".
A energia nuclear é considerada por especialistas uma fonte limpa em comparação com os combustíveis fósseis, altamente poluentes e sujeitos a oscilações repentinas de preço. Os críticos, no entanto, salientam que as usinas atômicas representam um risco elevado quando ocorrem acidentes e consideram que os governos ainda não encontraram uma solução satisfatória com relação ao armazenamento do lixo nuclear.
Goldemberg lembra ainda que o acidente de 1979 em Three Mile Island, nos Estados Unidos, aconteceu sem terremoto nem tsunami. "Foi um problema mecânico nas bombas de circulação da água", recorda. O tsunami de 11 de março provocou o desligamento das bombas de resfriamento dos reatores do complexo nuclear de Fukushima. Desde a tragédia, quatro dos seis reatores do complexo experimentaram incêndios, explosões ou derretimento parcial.
Na sexta-feira, autoridades japonesas elevaram de 4 para 5 o nível de crise nuclear, em uma escala que vai até a 7. O nível atual da crise é o mesmo do acidente em Three Mile Island. A reclassificação ocorre em um momento no qual o Japão pede a ajuda dos EUA e admite que sua resposta à crise foi lenta por conta da necessidade de resposta à tragédia humana do terremoto seguido de tsunami, que deixou milhares de mortos e desaparecidos.
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