O MISTÉRIO SOBRE A DESCOBERTA mais recente do jipe-robô Curiosity acaba de ser revelado. O solo da cratera onde a missão está sendo conduzida é complexo e possui compostos de cloro que podem (ou não) ter também carbono, elemento que é um dos ingredientes básicos dos seres vivos. Se isso for confirmado, será preciso avaliar ainda se esse carbono tem sua origem (ou não) em seres vivos.
Diante do grande entusiasmo com que o anúncio de hoje no congresso da União Geofísica Americana vinha sendo antecipado, a notícia com tantos poréns pareceu um pouco decepcionante. Na semana retrasada, o cientista-chefe do projeto, John Grotzinger, dissera que os resultados a serem apresentados iriam “entrar para a história”, e desencadeou especulação de que moléculas complexas de carbono poderiam ter sido achadas em Marte.
O anúncio de hoje não é um desmentido total da presença de carbono no planeta vermelho, mas os cientistas não sabem ainda se o elemento encontrado no instrumento de análises de amostras do jipe é mesmo marciano. Segundo Paul Mahaffy, cientistas responsável pelo instrumento, é possível que a pequena quantidade de carbono presente na amostra analisada tenha sido levada carregada da Terra até Marte pelo Curiosity.
Segundo o cientista, se o jipe conseguir seguir achando mais e mais carbono durante sua missão, a probabilidade de que seja um problema de contaminação diminui. Se o jipe eventualmente obtiver uma amostra com bastante carbono, será possível conduzir uma análise isotópica (para análisar o peso dos átomos de carbono), algo que ajudará a determinar se esses átomos tem origem biogência. O carbono estava presente em compostos clorados de metano —a mais simples molécula orgânica— que pode ser produzida de maneiras mais triviais. [Existe carbono na atmosfera de Marte na forma de CO2, mas a produção dessa molécula simples nada tem a ver com a existência de vida ou reações orgânicas mais complexas.]
Outra notícia interessante embutida na apresentação foi o encontro da evidência de mais água em Marte. Mesmo na região seca onde o Curiosity se encontra agora, a cratera Gale, havia moléculas de água isoladas, grudadas nos grãos de poeira analisados pelo jipe. O cloro visto nas amostras provavelmente saiu de perclorato, um composto de cloro reativo que poderia ser usado como fonte energia por seres vivos, apesar de normalmente ser algo tóxico.
Obrigado a desmentir os boatos de que o jipe tinha encontrado evidência de vida em Marte, Grotzinger afirmou que teve seu entusiasmo mal compreendido. “Aprendi que tenho de ter mais cuidado com aquilo que digo, e como digo”, afirmou. “Nós fazemos ciência na velocidade da ciência, mas hoje as coisas se espalham na velocidade do Instagram.”