Restringir os carros. Essa é a receita que grandes cidades apresentaram, durante o C40 (encontro ambiental), na semana passada em São Paulo para reduzir a poluição.
Mas São Paulo descarta essa possibilidade. O prefeito Gilberto Kassab (PSD) defende que "só daqui a uns dez anos" a cidade estará preparada para uma restrição maior que a do rodízio existente desde 2007.
Kassab fala, especialmente, do pedágio urbano, solução adotada por Seul e Londres, por exemplo, para diminuir o tráfego de veículos.
Mas há alternativas como a de Buenos Aires, que está diminuindo espaços para estacionamento nas ruas, considerada uma "restrição indireta". Aí São Paulo aceita.
"Não existe restrição prevista de circulação. Existe previsão de restrição de estacionamento", disse o secretário de Transportes, Marcelo Branco, na conferência.
Ao lado de Branco na palestra estava o secretário do Ambiente de Seul, Yonchan Jeong, que havia relatado a criação do pedágio urbano em dois túneis de acesso ao centro da cidade asiática.
Para Kassab, São Paulo só poderá ampliar as restrições aos veículos quando tiver uma rede de linhas de metrô muito maior que a atual. Estima pelo menos dez anos. Quando a rede de transporte de massa atingir toda a cidade, pode se pensar, por exemplo, em implantar pedágio para quem for de carro ao centro.
ENCALACRADA
Especialistas ouvidos pela Folha, que também participaram do C40, dizem que a cidade está "encalacrada".
"Existe uma certa esquizofrenia na administração municipal", diz Paulo Saldiva, da USP, especialista em poluição do ar. "A mesma prefeitura que faz a inspeção veicular investe em obras viárias para ajudar o carro."
Na avaliação do especialista, antes mesmo de o governo tomar alguma providência, a opinião pública é que vai passar a cobrar por soluções. "Ninguém aguenta mais o trânsito da cidade."
Investir no transporte por bicicletas foi outra proposta debatida na C40 para reduzir o trânsito e a poluição.
Paris fez isso. Desde 2001, a rede de ciclovias foi de 10 km para 700 km. Os congestionamentos caíram 24%.
Em São Paulo, a rede de ciclovias é pequena e a prefeitura aposta no "compartilhamento" das vias, método que será testado no Brooklin e no centro nos próximos meses.
Nesses locais serão criadas "ciclorrotas", com sinalização sobre a prioridade da bicicleta, mas as vias não serão exclusivas dos ciclistas.
Em outras grandes cidades, a busca agora é por mais segurança. Em debate sobre o tema na C40, representantes de Amsterdã, Paris, Chagwon (Coreia do Sul) e Buenos Aires defenderam faixas exclusivas para ciclistas, que podem dividir com carros as vias tranquilas.
"Agora que a bicicleta faz parte do transporte, não se pensa em separar o trânsito nas vias menores. O compartilhamento já é mais civilizado", diz Anne Hidalgo, vice-prefeita de Paris.