Joel Silva/Folhapress | ||
Agricultor toma banho após recolher água para consumo em açúde em Paranatama, no agreste pernambucano |
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Serafim Raimundo Silva, 76, e sua mulher em seu sítio que tem parabólica e máquina de lavar em Pernambuco Sertanejo tem máquina de lavar, só que falta água http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/39977-sertanejo-tem-maquina-de-lavar-so-que-falta-agua.shtml São Paulo, domingo, 29 de abril de 2012 Sem água encanada, casas têm aparelhos como TV de LCD; renda subiu 42% e rede de saneamento, 6,9% FÁBIO GUIBU ENVIADO ESPECIAL A PARANATAMA (PE) DANIEL CARVALHO DE SÃO PAULO O descompasso entre a implantação de infraestrutura hídrica no semiárido nordestino e o crescimento da renda dos seus moradores fez surgir na região vítimas da seca que não têm água encanada, mas moram em casas com antenas parabólicas, TVs de LCD e até máquinas de lavar. Segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas), a renda no Nordeste cresceu 42% entre 2001 e 2009. Já o número de domicílios com água encanada na zona rural aumentou apenas 6,9% entre 2000 e 2010, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o descompasso resulta de "anos sem política de sustentabilidade hídrica". Numa região onde apenas 35% dos domicílios rurais são ligados à rede de distribuição, a solução no período de estiagem são ações emergenciais. Só com carros-pipa, o governo federal vai gastar neste ano R$ 164,6 milhões. CISTERNA E GELADEIRA "Já passei por muitas secas, andava dois quilômetros para buscar água com o pote na cabeça", disse o agricultor aposentado Serafim Raimundo da Silva, 76, morador da zona rural de Paranatama, no agreste de Pernambuco. "Hoje ainda não tenho água de cano [encanada], mas se quiser água gelada é só tirar da cisterna e colocar na geladeira", afirma ele. O agricultor mora na mesma casa desde criança. Era de taipa, virou de madeira e agora é de tijolo, conta. No telhado, uma antena parabólica divide espaço com um sistema de coleta de água da chuva. Na sala, há uma TV de LCD e, no quintal, a máquina de lavar roupa funciona com água de balde. Da estrada que liga Paranatama à divisa com o Estado de Alagoas, é possível ver o brilho de outras parabólicas. Ao lado das casas, quase sempre há uma cisterna. "Pegar água do barreiro virou coisa do passado", diz a agricultora Terezinha Leite da Silva, 55, que mora em Bom Conselho (PE). "Antigamente, a gente era obrigada a coar a lama para beber [a água]", lembra ela. "Agora, ainda não tem água de torneira, mas a represa é só para lavar roupa e os animais", diz Terezinha. Ela nasceu na região e morou em um barraco de taipa, no mesmo lugar onde ergueu sua casa de tijolos. Por três anos, recebeu o Bolsa Família, período em que financiou o armário onde guarda os eletrodomésticos. O carro-pipa visita a região a cada 15 dias. Mas, se o reservatório esvazia antes disso, ela divide os R$ 60 que paga por uma carga d'água com a vizinha, Maria Ferreira, 25. |