http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1193959-nova-york-constroi-parque-projetado-por-modernista-em-1974.shtml
Um terreno baldio na pontinha da ilha Roosevelt, pedacinho de terra entre Manhattan e Queens, acaba de ganhar um parque desenhado por um dos maiores arquitetos modernistas.
O espaço triangular de 17 mil m² já se tornou um lugar privilegiado por oferecer um novo ângulo de Manhattan --à direita do parque, a sede da ONU parece estar ao alcance da mão.
O parque das Quatro Liberdades, um memorial ao ex-presidente americano que dá nome à ilha, foi desenhado há quase 40 anos por Louis Khan, arquiteto que está na mesma liga exclusiva de Frank Lloyd Wright, Mies van der Rohe e Oscar Niemeyer.
Kahn morreu pouco depois de desenhá-lo, em 1974. Com a difícil situação financeira da Prefeitura de Nova York nos anos 1970 e a espiral de crise econômica e violência, o projeto ficou engavetado.
| Steve Amiaga/Associated Press | |
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Vista aérea do novo parque das Quatro Liberdades |
Só em 2005, com a reinvenção de Nova York como cidade pujante, o embaixador aposentado William Vanden Heuvel começou uma campanha para angariar fundos para a construção. A obra custou US$ 50 milhões (cerca de R$ 100 milhões, apenas um terço a mais do que a reforma de sua xará paulistana, a nova praça Roosevelt).
O parque foi inaugurado em outubro, pouco antes de a tempestade Sandy atingir a cidade, e ficou inacessível por alguns dias. O terreno foi elevado em alguns metros para proteger o parque das cheias do rio. Mas o projeto já previa uma entrada elevada para criar um efeito óptico.
Kahn desenhou uma escadaria imponente, com degraus de 31 metros de largura --é só ao chegar ao topo que se vê o parque se esticando rumo ao rio, com um vasto e impecável gramado e duas fileiras de árvores de cada lado. São 120 tílias, árvores de climas temperados.
Ao final do gramado, ergue-se um busto de Franklin Roosevelt (que não estava no projeto original). Atrás dele, talvez o grande achado do projeto: uma praça de 335 m², envolta por três paredões compostos por 28 blocos de granito, cada um com 36 toneladas. Separados por algumas polegadas, permitem a entrada da luz e criam múltiplas sombras no recinto.
O único espaço aberto funciona como moldura para observar a cidade, com vistas para suas grandes pontes e para a sede da ONU.
Kahn chamava a área de "grande sala". Com alguns degraus e um espelho d'água, ela convida o visitante a se sentar e a contemplar a cidade. Os nova-iorquinos entenderam a vontade do arquiteto --o silêncio impressiona.
Nesse espaço de meditação, o discurso de Roosevelt sobre as quatro liberdades fundamentais, feito em 1941, está gravado no granito: liberdade de expressão, de religião, de querer e de temer.