A legislação evoluiu e consequentemente, houve uma mudança brusca no comportamento. Em nenhum local fechado, como restaurantes, bares e baladas, é aceito o cigarro. Ele tornou-se um produto mais rejeitado e o fumante, muitas vezes, é visto com desdém pelos não viciados.
Mesmo assim, após cinco anos de proibição em ambientes fechados de São Paulo e de campanhas governamentais e de alertas sobre os riscos à saúde em relação ao vício do tabagismo ainda são muitos os jovens que fumam e que não planejam largar o cigarro.
Gastam entre R$ 50 e R$ 150 por mês. São fiéis às marcas, se submetem a tomar chuva e passar frio para fumar e não ouvem os conselhos das mães e ficam quites com os amigos.
“Meu namorado fuma e todos meus amigos fumam, então, agora, eu não penso em deixar de fumar”, diz a consultora Vanessa Soriano, 22 anos, que começou com o vício aos 18, logo que conseguiu seu primeiro emprego.
A amiga e também consultora, Tatiele Lemos, 23, fuma há três anos e diz que consegue se controlar bem com os cigarros. “São dois por dia, um depois do almoço e outro em casa, antes de dormir”, afirma.
Ambas ressaltam ser comum achar adolescentes fumando em bares e em shoppings. “Acho ridículo ver um menino de 13 anos com cigarro na mão e são aqueles coloridos, assim que começam”, diz Tatiele.
Caminhando pelo Centro da cidade, com dois amigos que não fumam, o ajudante geral de 18 anos, que não quer se identificar, segura um cigarro entre os dedos. “Um dia quis experimentar, entrei no bar e comprei. Gostei e passei a fumar.”
Ele afirma que os pais sabem do vício e não concordam, sempre pedem para que o ajudante pare. “Acho que para parar é fácil é só ter vergonha na cara”.
Boa notícia / A Secretaria Estadual de Saúde informa que o vício do cigarro não é de notificação compulsória, por isso, não há estatísticas sobre os fumantes no Estado.
Mas segundo o Lenad (Levantamento de Álcool e Drogas) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), divulgado no fim do ano passado, houve uma queda de 20% no consumo de tabaco nos últimos seis anos no Brasil.
A queda foi maior entre adolescentes (45%), de 6,2% em 2006 para 3,4% em 2012. O Lenad coletou dados por três meses em 149 municípios e escutou 4.607 brasileiros.
Apesar da diminuição do tabaco outro estudo do Lenad aponta que 1,5 milhão de pessoas usam maconha diariamente no país, entre adolescentes e adultos.
Só por hoje, por amanhã, depois e para sempre
Assim como há os Narcóticos Anônimos para viciados em drogas psicoativas há também o grupo Fumantes Anônimos no Brasil, que considera a adicção à nicotina uma doença que afeta o fumante física, mental, emocional e espiritualmente.
Para o grupo, duas características da adicção são: o uso compulsivo de dada substância, e o uso continuado apesar das consequências adversas. Nosso hábito de fumar certamente era compulsivo e suas consequências tendem a ser fatais.
Quando as pessoas procuram pelo Fumantes Anônimos afirmam que parar fica mais difícil - quase impossível - na segunda ou terceira vez. Força de vontade e determinação deixam de ser suficientes para superar o hábito, pois a nicotina é uma droga extremamente aditiva.
Os membros de Fumantes Anônimos são encorajados a não fumar "um dia de cada vez". Mas, para se livrar do vício eles alertam que é preciso ter mentes e emoções saudáveis também.
Pelo Ministério da Saúde é oferecido aos municípios o Programa de Controle e Combate ao Tabagismo. Boa parte das cidades brasileiras têm assistência gratuita para quem quer largar o cigarro.
E o governo brasileiro tem razão para investir. No mundo, O tabagismo gera uma perda mundial de 200 bilhões de dólares por ano, a maioria em tratamento para doenças causadas pelo cigarro.
Na internet
Há grupos do Fumantes Anônimos em todas as regiões do Brasil. A lista com endereços está no site da entidade. Lá também existem 12 passos para largar o vício.
A legislação
Lei nº 13.541 de 07 de agosto de 2009 - Lei Antifumo do Estado de São Paulo proíbe o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, em ambientes de uso coletivo, públicos ou privados, sejam eles total ou parcialmente fechados e onde haja permanência ou circulação de pessoas
Lenad
Segundo a Unifesp nove em dez fumantes gostaria de deixar o cigarro, mas poucos fazem planos para isso acontecer.
Entrevista
Mauro Sabonas_Jornalista
Nem o enfarte foi suficiente para o vício perder a briga
O jornalista Mauro Sabonas, 48 anos, perdeu a conta de há quanto tempo fuma. Calcula que é desde os 20. Em 2009, sofreu um enfarte e resolveu que era hora de parar. Dois anos depois não aguentou mais a ansiedade e voltou com o hábito. Por enquanto, o vício é vencedor.
Porque é tão difícil parar de fumar?
O problema maior é controlar a ansiedade que nos leva a fumar. Quando sofri o enfarte fiquei cinco dias no hospital. Ao sair, me dei conta de que não precisava fumar. Isso, aliado aos ansiolíticos que tomei, consegui segurar a ansiedade e fiquei sem fumar por dois anos.
O que lhe fez voltar?
Quando se está estressado, a gente não consegue pensar direito. Voltei porque estava passando por problemas e porque o cigarro me ajudava a acalmar e enfrentar melhor a situação.
Você acredita que a lei antifumo acabou lhe influenciando? Dificultando de alguma maneira?
Não, muito pelo contrário. Acredito que a lei conseguiu com que os locais ficassem mais limpos. Apesar de ser fumante, eu não gosto do cheiro do cigarro e não me incomodo de sair e “ir fumar lá fora”. Isso é respeitar quem não fuma.
Seus amigos também fumam?
Metade deles, sim. A outra parte foi parando ao longo do tempo por problemas de saúde. Acho que sou um dos únicos que continua com o vício e já tive problemas. Mas isso não impede de nos encontrarmos. Todo mundo é tranquilo e entende que o vício não é brincadeira e que cada um tem seu tempo para parar.