CORRESPONDENTE / GENEBRA
A Suíça deu ontem o primeiro passo concreto para abandonar a energia nuclear com a aprovação, pelos deputados do país, de um projeto de lei do governo nesse sentido. A proposta ainda tem de passar pelo Senado e por uma votação popular, mas a fase mais difícil foi superada. A Suíça e a Alemanha são os primeiros países a mudar sua política energética, depois do desastre com a central nuclear de Fukushima no Japão.
O projeto prevê incrementar a pesquisa sobre energia alternativa e dar mais incentivo à inovação tecnológica. A lei também limita a capacidade de grupos ambientalistas de barrar a construção de instalações de energia eólica ou solar. Na prática, com a proposta, o governo quis evitar a pecha de ecologista e também de rejeição à competitividade.
Cerca de 40% da energia na Suíça vem de usinas nucleares. Para conseguir o apoio para adotar a lei, o governo afirmou que fará pesados investimentos em novas fontes de energia. A proposta é de que as cinco centrais nucleares da Suíça sejam desativadas até 2034.
"Há um mundo antes e depois de Fukushima", afirmou Roberto Schmidt, deputado democrata-cristão, de centro-direita. Pela Europa, o desastre no Japão obrigou governos a rever suas políticas e dar uma resposta à preocupação da população.
"Eleitoreiro." A resistência veio do partido de extrema-direita, o SVP. O grupo acusa o governo de ter antecipado a proposta para o primeiro semestre como carta eleitoral. As eleições gerais ocorrem em outubro e a aprovação da proposta será usada pelo governo para ganhar votos. Da população, 75% se disseram favoráveis ao fim das usinas nucleares.
O SVP apresentou um projeto para adiar o debate para o final do ano. Mas a proposta foi rejeitada em outra votação, também ocorrida ontem. Polêmico, o debate no Parlamento foi transmitido ao vivo pelas principais emissoras de TV, apesar de a discussão ter levado mais de cinco horas.
Há menos de uma semana, deputados alemães também aprovaram uma proposta similar de Berlim e o governo também foi acusado de usar o tema para ganhar as eleições (mais informações nesta página).
Para o setor mais próximo do lobby industrial, a proposta é "irresponsável, irrealista e trará danos para economia". Para o grupo, abandonar a energia atômica representará um custo maior para abastecer a economia local, o que representará uma queda na competitividade do país.
A ministra de Energia, Doris Leuthard, afirmou que a proposta considerava o impacto econômico. Mas ela insistiu que inovação e energia renovável substituiriam as usinas nucleares.
A entidade Economiesuisse - o principal lobby industrial - alertou que o país está tomando um "caminho errado"; também afirmou que o gasto superará os US$ 2,5 bilhões que o governo estima com a transição. Entidades como Greenpeace e WWF elogiaram a decisão. Mas criticaram o fato de a lei os impedir de barrar novos projetos de energia em outros setores.
PARA LEMBRAR
Decisão segue lei alemã
Na segunda-feira, o governo alemão aprovou um conjunto de projetos de lei com o objetivo de encerrar a produção de energia atômica no país em 2022, além de estimular energias renováveis.
O Ministério da Economia anunciou que a construção de novas redes de alta tensão será acelerada e demorará quatro anos, em vez dos dez previstos inicialmente. Por sua vez, o Ministério de Transportes e Infraestruturas informou que o pacote de leis inclui subvenções no valor de 1,5 bilhão (R$ 3,4 bilhões) anuais para a renovação ecológica de edifícios, com o objetivo de economizar energia.
A nova legislação nuclear também fechou definitivamente os oito reatores que foram desativados após o acidente na usina de Fukushima, no Japão. A lei fomentar a construção de novos parques eólicos, assim como a renovação dos existentes, que receberão geradores de maior rendimento.