http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/1101675-especialistas-afirmam-que-medicao-do-pib-e-rustica-e-omissa.shtml
ANDREA VIALLICOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O mundo precisa de novas métricas para calcular o desenvolvimento e a riqueza dos países. O PIB (Produto Interno Bruto) não responde mais à complexidade atual. Essa percepção, crescente entre economistas e pesquisadores, colocou o tema nas discussões da Rio+20.
Leia mais no Especial Rio+20
Folha lança aplicativo sobre a Rio+20 para smartphone
Conte à Folha como sua vida é 'sustentável'
Teste seus conhecimentos ambientais
A principal crítica ao PIB é de que ele serve apenas para medir o fluxo da riqueza, sem incluir na conta as chamadas externalidades: custos sociais e ambientais envolvidos na produção dessa riqueza.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ressaltou, em abril, a necessidade de um substituto para o índice. "Precisamos de um novo paradigma econômico que reconheça a paridade entre os três pilares do desenvolvimento sustentável: bem-estar social, econômico e ambiental. Os três definem a felicidade global bruta."
RÚSTICO E OMISSO
"O PIB é uma medida rústica", resume o economista Eduardo Giannetti, professor do Insper-SP. "É completamente omisso em relação aos impactos ao meio ambiente e à qualidade de vida das pessoas", diz Giannetti. "Se você mora longe do trabalho, seus deslocamentos fazem o PIB aumentar. Mas com prejuízos à sua qualidade de vida: horas perdidas no trânsito, poluição", exemplifica.
Críticas desse tipo existem desde que o PIB passou a ser amplamente utilizado pelos países, a partir dos anos 1940. Até mesmo um de seus formuladores, o economista Simon Kuznets, admitiu as limitações do cálculo.
Mas nos últimos três anos vários estudos importantes voltaram a questionar o indicador e ganharam espaço. Um dos documentos que ajudaram a levantar essa discussão foi "Prosperidade sem Crescimento?", publicado em 2009, do economista inglês Tim Jackson, que é membro da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do governo britânico.
Na obra, Jackson defende o abandono do mito do crescimento econômico infinito, por causa dos limites físicos da natureza para acompanhar essa expansão. Além disso, na visão de Jackson, mais crescimento econômico não se traduz, necessariamente, em maior bem-estar para as populações.
Também em 2009, um grupo de economistas liderado por dois prêmios Nobel, o americano Joseph Stigliz e o indiano Amartya Sen, foi encarregado pelo então presidente da França, Nicolas Sarkozy, de elaborar uma proposta alternativa de PIB.
O experimento não chegou a formular um novo indicador, mas produziu uma lista de recomendações para tornar o índice l?compatível com os tempos atuais.
TERCEIRO INDICADOR
Na Rio+20, o Brasil pretende defender a criação de indicadores ambientais atrelados ao PIB.
Pela proposta brasileira,o desenvolvimento dos países seria medido com base em três indicadores: o PIB, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que calcula o desempenho na área social, e o novo indicador ambiental.
Segundo o embaixador André Corrêa do Lago, os países em desenvolvimento rejeitam a ideia de tirar o PIB de cena. "Isso divide os países. Uns dizem: 'Agora que nos tornamos importantes pelo PIB, o PIB não é mais medida?'".
O Brasil, que faz parte do grupo e se tornou a sexta economia, deve subscrever a posição dos países emergentes.