As medidas fazem parte de um plano contra o tabagismo revelado pela ministra da Saúde, Marisol Touraine, na semana passada. O anúncio inclui uma reivindicação antiga das associações de luta contra o fumo: a adoção de embalagens neutras para os cigarros comuns. O espaço para a marca será reduzido e todos os pacotes terão a mesma forma, tamanho e tipografia. O fumo dentro de veículos com a presença de menores de 12 anos vai ser proibido.
A ministra reconhece que o cigarro eletrônico é menos nocivo para a saúde e pode ser um bom caminho para quem quer parar de fumar, afinal o produto contém nicotina, mas não tabaco. O pneumologista Bertrand Dautzenberg, presidente da Agência Francesa de Prevenção ao Tabagismo, garante que o cigarro eletrônico provoca menos dependência.
“O cigarro eletrônico faz menos mal e mantém uma boa imagem mesmo com essas medidas. Não houve a intenção de questionar os benefícios do cigarro eletrônico em relação ao cigarro normal”, afirma. “O governo quis dizer que ele não é um produto sadio, mas é infinitamente melhor do que o cigarro de verdade.”
Mais limites no futuro
O governo francês já indicou a intenção de adotar, para os cigarros eletrônicos, as mesmas restrições aplicadas aos cigarros à base de tabaco. A questão ainda provoca controvérsias dentro da Europa – enquanto a Itália classifica os cigarros eletrônicos como medicamento para parar de fumar, a Croácia proíbe o uso do produto em todos os lugares públicos.
Dautzenberg é favorável a esse método para acabar com o vício. “O meu desejo é que daqui a 20 anos não haja mais nenhum fumante na França graças ao cigarro eletrônico, e cinco anos depois não tenha mais nenhum usuário de cigarro eletrônico. As coisas caminham nesse sentido”, observa. ”Seja fumaça ou vapor, o melhor é que crianças e jovens não cresçam assistindo à cena de pessoas consumindo cigarros.”
A radiologista Amélie, de 26 anos, fumava um maço de cigarros por dia e, desde que adotou o cigarro eletrônico, afirma estar menos dependente. “Eu acho que é compreensível que seja comparado com o cigarro normal, enquanto não se sabe com certeza quais são os efeitos na saúde. Mas se um dia provarem que não é prejudicial, espero que voltem a nos dar o direito de fumar o cigarro eletrônico em todos os lugares”, comenta. “Parei com o cigarro normal e hoje o cheiro do tabaco me dá tanto nojo quanto para uma pessoa que parou totalmente de fumar. Só continuo com o cigarro eletrônico por causa da dependência à nicotina.”
Já a vendedora Lucie, 28 anos, acha as restrições ao produto um retrocesso. Ela é fumante há 12 anos e também abandonou o tabaco.
“Já demos esse passo à frente, por que voltaríamos atrás? Seria ridículo. Restringir o acesso não é uma solução para ninguém – pelo contrário, é uma burrice”, reclama. “Eu acho que não tem comparação: o gosto é bem melhor e a gente sente que está agredindo menos a saúde.”
Fabricantes protestam
Entre os comerciantes do produto, as medidas não foram bem recebidas. O presidente da federação dos fabricantes, Arnaud de Rauly, acha que as proibições vão de encontro ao plano do governo francês de, em 20 anos, acabar com o tabagismo.
“As medidas que atingem o cigarro eletrônico são simplesmente aberrantes, porque os colocam no mesmo nível de um produto de tabaco. Já foi provado que os cigarros eletrônicos são infinitamente menos perigosos que o cigarro clássico”, diz. “Nós vamos dialogar com as instituições competentes para explicar essa situação e chegar a medidas bem menos punitivas, afinal as vendas de tabaco caíram 7% em agosto em relação a janeiro deste ano – e isso graças ao cigarro eletrônico.”
Rauly argumenta que quem adota o cigarro eletrônico acaba fumando menos porque os hábitos do vício se modificam. “Quando você acende um cigarro, você fuma ele até o fim. Quando você usa um cigarro eletrônico, você dá uma ou duas tragadas e depois só volta a usá-lo uma ou duas horas depois”, explica. “Você não vai dar 12 tragadas de uma vez só porque o cigarro está aceso.”
No Brasil e em boa parte da América Latina, o cigarro eletrônico é proibido. Em Honk Kong, a simples posse do produto é passível de uma multa de R$ 30 mil.