Autoria: Marina Pauliquevis - O Estado de S. Paulo
Muito se fala em sustentabilidade, mas o que de fato podemos consumir de forma sustentável? Para o designer Christian Ullmann, nada. "Em sentido amplo, nada é sustentável hoje", afirma. E olha que o trabalho dele tem tudo a ver com o tema. Ullmann, argentino radicado no Brasil desde 1996, presta consultoria a várias comunidades carentes, ajudando a desenvolver peças para casa. "O que podemos fazer é procurar algo que tenha sido produzido com o menor impacto ambiental e maior impacto social possível", diz.
Algumas dessas peças estão no Museu da Casa Brasileira, na mostra Produtos Imperfeitos. Na coleção xaT, cadeiras e mesas são formadas por estrutura de ferro e cordas. As luminárias Casulo surgiram do trabalho com uma associação de mulheres do sertão baiano que tinham à disposição resíduos da mineração de pedras brasileiras. Em um remanescente de quilombolas a 80 km de Macapá nasceram outras luminárias, das Louceiras de Maruanum. "A técnica primitiva que já era usada por indígenas aparece em contraponto à iluminação com LED, que é o que há de mais novo no setor", ressalta Ullmann.
Ele acredita que a mostra é uma oportunidade para discutir padrões de comportamento de consumo, ao tratar de questões como reaproveitamento de materiais e mesmo sobre "o tempo das coisas". "Todos queremos algo imediato, sem pensar que tudo tem seu tempo, a sustentabilidade requer tempo. É só pensar em quanto demora para as mulheres do Amapá fazerem cada uma de suas luminárias de argila."
A exposição, aberta até 3 de julho, faz parte da Virada Sustentável, evento que discute o tema neste fim de semana em eventos culturais por toda a cidade. Entre outras mostras, no Museu de Arte Moderna, no Ibirapuera, Razão e Ambiente apresenta trabalhos pioneiros da arquitetura brasileira no uso de soluções ecológicas. No Mube, Sérgio Fabris montou a instalação Revendo o Resto com madeira descartada.