Figura 6 - Estacionamento do shopping - alternativa de projeto 1. Mantém-se a disposição geométrica original e apenas substitui-se o pavimento impermeável existente nas vagas de parada, por um pavimento permeável
Para dois estacionamentos de grande porte já implantados no município de Campinas (SP), apresentamse e comparam-se alternativas de projeto que buscam incorporar os conceitos de piso permeável e de utilização intensiva de vegetação. O primeiro deles é um setor do estacionamento de um shopping situado junto à Rodovia Dom Pedro, que abriga 1.550 vagas.O segundo,para 384 veículos,está em um campus universitário, situado junto à mesma rodovia (vide figura 4).
Estudo de caso - Estacionamento de shopping Figura 7 - Estacionamento do shopping - alternativa de projeto 2.
São criadas circulações exclusivas para pedestres
No projeto geométrico mostrado na figura 5 as vagas foram dispostas ortogonalmente às vias de circulação de veículos. Tanto a via de circulação, que tem largura de 6 m, quanto o local para estacionamento (cada vaga tem 2,4 x 5,0 m) são pavimentados. Não são previstas calçadas para circulação de pedestres, que se deslocam na própria via de veículos. O arranjo geométrico tem como proposta central maximizar o número de vagas.As águas pluviais são captadas em bocas-de-leão e conduzidas por tubulações subterrâneas para o ribeirão, situado imediatamente junto ao terreno do shopping.Para esse estacionamento é apresentada a proposta geométrica alternativa 1, que é apresentada na figura 6, em que se mantém a mesma disposição geométrica, porém altera-se o piso no local de parada dos veículos. O mesmo número de vagas é mantido nessa proposta,porém não se equaciona o problema anteriormente apontado de circulação de pedestres na mesma área destinada para circulação de veículos.
Na alternativa de projeto 2, apresentada na figura 7, são criadas áreas para circulação exclusiva de pedestres, que melhoram as condições de conforto e de segurança. Essas vias de pedestres, em alguns pontos, circulam entre bosques. Na concepção proposta, alguns desses bosques receberiam a denominação da espécie arbórea predominante. Na proposta geométrica buscou- se assegurar que seja mínima a distância percorrida pelo pedestre até uma superfície calçada com material contínuo, impermeável, de forma a evitar os incômodos associados à circulação sobre piso permeável.
Verifica-se que é possível reduzir a menos da metade a área impermeabilizada, praticamente sem redução do número de vagas de estacionamento.Com relação ao conforto, deve ser levado em conta, por um lado, o aspecto positivo de estacionar na sombra e de caminhar em uma área arborizada. Por outro lado, existe o desconforto do pedestre transitar sobre piso permeável, que foi minimizado pela pequena extensão dos percursos, sempre inferior a 3 m.
Figura 8 - Estacionamento do shopping - situação atual
Figura 9 - Estacionamento do shopping - alternativa de projeto 2
Estudo de caso - estacionamento de campus universitário
No projeto geométrico, mostrado na figura 10, tem-se um canteiro central que é destinado ao estacionamento. Também são previstas vagas para parada de veículos, dispostas a 45º, ao longo das duas avenidas que circundam o canteiro central. Para esse estacionamento é apresentada a alternativa de projeto 1,mostrada na figura 11,em que se mantém a posição das duas avenidas, porém substitui-se a pavimentação asfáltica por piso drenante, nas áreas de parada dos veículos.
Figura 10 - Projeto geométrico de estacionamento; campus
universitário - situação atual
Figura 11 - Estacionamento do campus universitário - alternativa de
projeto 1
Figura 12 - Estacionamento do campus universitário - alternativa de
projeto 2
Na alternativa de projeto 2, a circulação de veículos fica toda concentrada em um dos lados do terreno,melhorando as condições de segurança e conforto dos pedestres.Nos bolsões de estacionamento, tanto o local de estacionamento quanto o de parada dos veículos é executado com piso drenante. Cria-se um passeio de circulação de pedestres entre as vagas, de forma a reduzir o percurso do pedestre em piso drenante.
Verifica-se, nas alternativas de projeto para o estacionamento do campus universitário, a ampliação da área permeável e, simultaneamente, a ampliação do número de vagas de estacionamento e de árvores plantadas. A redução da área impermeabilizada implica a redução dos gastos com pavimentação e com o sistema de drenagem das águas pluviais. Se for adotada uma solução de piso permeável que tenha custo inferior ao da pavimentação, pode-se chegar a uma economia significativa, à qual se somam os ganhos ambientais.
Estacionamento na habitação
Figura 13 - Estacionamento do campus universitário - situação atualNas residências unifamiliares ou nos pequenos grupos de habitações identifica-se a possibilidade de utilização de estruturas ou pérgulas, sobre as quais se plantam trepadeiras.
Para dar suporte à planta e também para a proteção dos carros enquanto as plantas estão em desenvolvimento pode-se fazer a cobertura da estrutura com tela, tipo sombrite. Esse tipo de tela, que tem preço da ordem de R$ /m2 evita a queda de galhos, flores, frutos e sujeira de pássaros. Sua utilização contribui para o sombreamento e reduz os riscos de impacto associados às chuvas fortes de granizo.
Na direção do paisagismo produtivo, podem ser plantadas espécies frutíferas, como maracujá, tamarindo e lichia americana.
Figura 14 - Estacionamento do campus universitário - alternativa de
projeto 1 Figura 15 - Estacionamento executado com trepadeiras
sobre estrutura de madeira
Justificam-se os esforços na direção da mescla entre áreas permeáveis e impermeáveis, nas áreas de estacionamento, também na habitação. Pequenas faixas gramadas têm uma eficiência elevada para a infiltração da água de chuva resultante de chuvas moderadas. Mesmo se forem limitados os resultados na prevenção das grandes enchentes, existe um papel importante quanto à recarga dos aqüíferos subterrâneos.
Pisos que permitem a infiltração da água de chuva no solo
Apresentam-se adiante algumas alternativas de pisos permeáveis, que permitem a infiltração da água de chuva no solo: grama; blocos de concreto vazados com intercalação de pedra ou grama; asfalto ou concreto poroso sobre camada de pedra britada (pavimento permeável); grama sobre colméia plástica; camada de pedra britada sobre solo.
Figuras 16 e 17 - Estacionamentos residenciais em que é feita a
mescla de superfícies permeáveis e não permeáveis
O tratamento de piso chamado "pavimento permeável" é constituído por asfalto ou concreto poroso, executado sobre camada de pedra britada.Na parte superior e inferior da camada de pedra é colocado geotêxtil, para prevenir a sua colmatação. Nesse tipo de piso a água se infiltra pela superfície, fica retida na camada de pedra e gradativamente se infiltra no solo. Estudos realizados pelo IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, demonstram resultados especialmente promissores para essa solução (Acioli, 2005). Nas análises até então realizadas tem se viabilizado a infiltração no solo de praticamente toda a água de chuva precipitada. A eficácia dessa solução, porém, depende de uma boa manutenção da superfície do pavimento, para garantir que se mantenha sua permeabilidade. Essa manutenção pode ser feita com a utilização de equipamento que aspira a sujeira existente na superfície porosa.
Figura 18 - Piso de bloco de concreto vazado,
preenchido com grama
Figura 19 - Grama plantada em estrutura alveolar plática
A utilização de grama plantada sobre solo, como revestimento da área de parada de veículos, se viabiliza quando é baixa a utilização do estacionamento e a vaga permanece desocupada durante longos períodos.A grama é afetada pelo calor excessivo oriundo do motor do veículo e pelo peso das rodas, que provocam a compressão e abafamento das raízes.Porém,para uso esporádico e ocasional, a solução é possível. Existe a possibilidade de fazer o calçamento do local destinado à roda do veículo, como foi mostrado na figura 17. Esse tipo de solução pode inclusive superar a dificuldade associada à circulação de pedestres que se utilizam de calçado com salto fino,que é uma das limitações relacionadas ao uso de grama nos pisos dos estacionamentos. Identificase a conveniência de realizar um estudo experimental de avaliação do desempenho de grama plantada sobre camada de solo orgânico-brita. Supõe-se que o material orgânico presente nos interstícios da pedra possibilite alimentação para as raízes da grama e que o arcabouço, constituído pela pedra britada,possa absorver e transmitir as cargas das rodas, evitando o esmagamento das raízes. O percentual de pedra britada deve ser da ordem de 70% em peso, para viabilizar a transmissão das cargas oriundas das rodas do veículo através das pedras, permitindo que as raízes da grama se desenvolvam nos vazios existentes entre as pedras, onde se encontra o material orgânico.O piso de bloco de concreto vazado, preenchido com pedra britada ou grama, é uma solução que apresenta como principal limitante o custo de implantação, relativamente alto.
Figura 20 - Pavimento permeável, em que a água infiltrada
no revestimento fica retida temporariamente na base constituída
por pedra e é gradativamente infiltrada no subleito
A execução de camada de pedra britada sobre o solo é uma solução relativamente simples e econômica. Dependendo da espessura da camada de pedra tem-se um efeito semelhante àquele que foi descrito na solução anterior, de pavimento permeável, ou seja, parte da água precipitada fica retida na camada de pedra e gradativamente se infiltra no solo.Uma das dificuldades da solução é a manutenção, em especial as atividades de remoção da vegetação que se desenvolve nos interstícios da pedra.
Considerações finais
A exemplo do que hoje já acontece em municípios tais como Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Santo André, deverão se ampliar e generalizar as exigências de piso permeável e de retenção temporária das águas de chuva.Na perspectiva de redução das áreas impermeáveis e de ampliação da infiltração da água de chuva no subsolo identificam-se possibilidades promissoras de aperfeiçoamento dos projetos dos estacionamentos. Os estudos até então realizados mostram que este aperfeiçoamento pode perfeitamente compatibilizar o conforto do usuário, a redução dos custos e a melhoria das condições ambientais, em especial no que diz respeito a novos patamares de qualidade paisagística.