O receio de que as unidades de produção sejam relocalizadas na sequência da entrada em vigor do Roteiro de transição para uma economia hipocarbónica competitiva em 2050 está a forçar alguns Estados-Membros como a Polónia a questionar o documento. O eurodeputado britânico Chris Davies (ADLE), relator parlamentar sobre a matéria, explica em entrevista a que se devem estes receios.
Quais as características de uma economia hipocarbónica?
CD: Na semana passada visitei o estaleiro de construção de um novo supermercado em Carlisle, onde estavam a ser feitas perfurações com 56 metros de profundidade, nas quais vão ser instaladas bombas de extração de água que será aquecida naturalmente, dada a temperatura da terra àquela profundidade. É um sistema muito simples que permitirá aquecer o supermercado e economizar mais de 100.000 euros por ano. O investimento paga-se a si próprio em cinco anos! Trata-se de um belo exemplo da aplicação dos princípios da Economia Hipocarbónica.
No seu relatório defende que a Europa deve desenvolver um sentimento de urgência, sob pena de vir a perder a sua competitividade económica. Quais são as suas principais sugestões?
CD: No caso europeu, é uma questão complicada. Somos compostos por uma série de democracias avançadas que promovem a participação pública, o que torna o processo de tomada de decisões mais lento. Na China, por exemplo, o governo estabeleceu uma série de objetivos de redução do consumo energético por parte das unidades fabris e as empresas que não cumpram as exigências são obrigadas a interromper a atividade. Nós não dispomos deste tipo de sistema de controlo e daí ser crucial criar um sentimento de urgência.
Qual é o impacto da atual crise e das medidas de austeridade no empenho dos países em alcançar os objetivos de baixo carbono?
CD: As questões relacionadas com o clima não são uma grande prioridade neste momento e isso acarreta perigos. Para conseguirmos alcançar os objetivos estipulados para 2050, temos de começar a planear agora. Os investidores necessitam de conhecer o enquadramento que os irá reger a longo prazo. O governo polaco apresentou há dias argumentos válidos, uma vez que a redução das nossas emissões em mais de 20% até 2020 será alcançada através da exportação de unidades fabris mas nós continuaremos a importar os produtos, o que na prática e em termos globais terá o mesmo efeito ambiental. No entanto, estipular objetivos conduz à mudança.