Sob a sombra do Arco do Triunfo, uma fila de 20 pessoas tomava a calçada em frente a uma nova butique da moda, todas ansiosas para provar uma nova linha de produtos gourmet. Uma placa na janela promovia o sabor piña colada. Uma mulher com um casaco Chanel comentava que queria provar o de pêssego.
Mas não se trata de um templo da gastronomia e sim de uma das lojas de cigarros eletrônicos que proliferaram recentemente em Paris, assim como em várias outras cidades da Europa e EUA. Dentro da ClopiNette, os clientes podem escolher entre mais de 60 sabores de nicotina líquida, com várias intensidades e arrumados nas prateleiras em filas coloridas.
“É como visitar uma loja da Nespresso”, disse Anne Stephan, uma advogada que trabalha por perto. O que a leva à loja é o desejo compartilhado por muitos: eles querem parar de fumar tabaco sem largar o hábito de fumar.
Depois de fumar 20 cigarros por dia durante quase 25 anos, Anne diz ter reduzido para um por dia desde que começou a usar o chamado cigarro eletrônico, ou e-cigarro. Usando uma tecnologia que transforma a nicotina infundida em propilenoglicol num vapor inalável, fumar o e-cigarro parece quase fumar o cigarro real, mas sem o cheiro da fumaça.
Apesar de eles ainda serem uma pequena fração do mercado de US$ 80 bilhões por ano nos EUA, a crescente popularidade desse produto acendeu uma briga na Europa entre os vendendores e os reguladores de tais produtos.
Esta semana, o governo britânico anunciou que tratará os cigarros eletrônicos como remédios. Mas eles só receberão licença a partir de 2016, dando um prazo para que os fabricantes se enquadrem em todos os padrões exigidos de remédios.
Nos EUA, a agência que controla alimentos e remédios, a FDA, tentou barrar a venda dos e-cigarros, alegando que eles são uma combinação não testada de droga e aparelho. Os fabricantes conseguiram mudar a posição da agência, mas em 2010 um tribunal federal determinou que eles devem ser tratados como os demais produtos de tabaco.
“Ainda são necessárias mais pesquisas para sabermos os potenciais benefícios e riscos para a saúde”, disse a porta-voz da FDA, Stephanie Yao. A agência está preparando novas regras para regular o produto.
Autoridades de saúde dizem que a segurança do produto ainda não foi comprovada e que o aparelho pode encorajar crianças e jovens a começar a fumar. Alguns ativistas antitabaco, incomodados com o destaque dos e-cigarros em restaurantes e bares, pedem que a propaganda deles siga as mesmas regras dos demais produtos de tabaco.
“O cigarro eletrônico pode ultrapassar o consumo de cigarro tradicional na próxima década. O crescimento é exponencial e não dá sinais de desaceleração”, diz Katherine Devlin, presidente de uma associação da indústria de e-cigarros.
Os cigarros eletrônicos são distribuídos por mais de 100 pequenas e médias empresas, como NJOY e White Cloud. A maioria deles é fabricada na China, pela Ruyan, que inventou o aparelho que aquece a solução com nicotina e solta um vapor como se fosse a fumaça. O cigarro, que também pode vir como uma luz de LED que imita a brasa, foi patenteado em mais de 50 países.
Mas agora, fabricantes como Malboro e outras grandes marcas estão correndo atrás para lucrar com a ideia – especialmente para compensar a redução das vendas em países ocidentais.
No ano passado, a Lorillard investiu US$ 135 milhões para criar o cigarro eletrônico Blu. British American Tobacco, RJ Reynolds e Japan Tobacco International também querem uma fatia dessa nova indústria. Este mês, a British American anunciou que lançará uma marca de e-cigarro, com uma campanha publicitária que incluirá comerciais de TV, algo proibido para cigarros convencionais.
Certamente há sinais de crescimento. Em 2011, mais de 20% dos fumantes adultos dizem ter experimentado os e-cigarros, o dobro da taxa de 2010 nos EUA. Os cigarros eletrônicos podem chegar a 5% das vendas de produtos de tabaco nas próximas duas décadas, segundo o Euromonitor Internacional.
Analistas dizem que tal tendência também repercutirá na indústria farmacêutica; produtos para parar de fumar como adesivos e chicletes de nicotina faturaram US$ 2,4 bilhões em 2011, sem contar os tratamentos com prescrição médica.
“Está na moda. As pessoas querem parar de fumar, então elas experimentam um desses e são fisgadas”, diz Olivia Foiret, gerente da loja na Avenue de la Grande Armée, em Paris, com a fila de clientes para fora.
Em dezembro, autoridades de União Europeia propuseram regular os cigarros eletrônicos e líquidos de nicotina como produtos médicos. Isso iria limitar a quantidade de nicotina a 4 miligramas por mililitro – menos do que contém os mais “light” dos cigarros – ou forçar os fabricantes a realizarem testes clínicos. A medida também aumentaria o quanto os governos recolhem de impostos sobre o produto – os líquidos de refil não são taxados na maioria dos países da Europa.
Os defensores do e-cigarro dizem que as autoridades europeias estão tendo uma reação apressada ao não reconhecer o aparelho como uma alternativa “mais segura”. Eles citam que o Royal College of Physicians no Reino Unido declarou que o e-cigarro pode tirar as pessoas do fumo tradicional, assim como um estudo de 2011 publicado no American Journal of Preventive Medicine, que conclui que os aparelhos “prometem ser um método para se parar de fumar”.
Mas os órgãos de regulação europeus citam a falta de estudos sobre a segurança de inalar rotineiramente o propilenoglicol. Eles também expressam preocupação de que com tantos sabores e cores, os cigarros eletrônicos podem ser uma porta de entrada para os jovens no hábito de fumar. Na França, onde as vendas de tabaco caíram no ano passado para os níveis mais baixos em uma década, uma pesquisa com estudantes parisienses de 12 a 17 anos mostrou que 8% deles já havia experimentado o cigarro eletrônico.
Foto: Corentin Fohlen/International Herald TribuneFonte: IGPostador: Samuel Charles