Dois viveiros ficam dentro do Centro de Progressão Penitenciária Dr. Edgard Magalhães Noronha, conhecido como Pemano, em Tremembé. E 53 detentos em regime semiaberto trabalham na produção das mudas.
Um convênio entre a empresa Florestas Inteligentes e a Fundação de Amparo ao Preso (Funap) resultou num estoque de mais de 1,5 milhão de mudas adultas - com mais de 1 metro de altura - de 130 espécies diferentes.
A produção mensal é de 100 mil mudas. Desde maio de 2010, quanto o projeto teve início, são produzidas tanto espécies nativas da Mata Atlântica quanto espécies exóticas. O número de trabalhadores é variável, dependendo da quantidade de sementes que a empresa tiver. "Mas, no fim do ano, a expectativa é ter perto de 70 reeducandos com a gente", afirma Paulo Augusto Franzine, diretor da empresa.
Para os detentos, a vantagem de entrar no programa é receber um salário mínimo (e, dessa forma, poder ajudar a família) e reduzir a pena em um dia a cada três trabalhados.
Com a produção de mudas, o objetivo será atender, principalmente, empresas e pessoas que precisam fazer reflorestamento e compensação ambiental - quando uma obra causa um impacto no ambiente e o responsável tem de fazer um plantio de árvores para contrabalançar o dano gerado, por exemplo. Paisagistas também estão na mira da empresa.
O tamanho da muda, de 1 metro, é ressaltado como um diferencial - mudas em tamanhos menores exigem maior tempo de monitoramento e cuidado para sobreviver. Os tubetes para as sementes e os vasos para as mudas são biodegradáveis, feitos com palha de arroz, celulose (jornal velho) e amido de milho. Dessa forma, substituem os plásticos e podem ser colocados na terra sem provocar poluição.
Mercado. A abertura da Florestas Inteligentes ao mercado será no Dia da Árvore, na próxima quarta-feira. O preço médio de cada muda será de R$ 10.
E nesta sexta-feira acontece outro evento especial, a formatura de 47 detentos que participaram de aulas de capacitação no Pemano. Os estudantes podem aprender em quatro áreas: restauro florestal, viveirismo, jardinagem e paisagismo. Quem ensina são mestrandos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
"Nosso lema é homens e florestas em pé", diz Franzine, sobre o modelo que combina resultados ambientais, sociais e financeiros. "Entendemos que essa é a forma de ter um empreendimento sustentável", afirma.
Elias Rafael Fortes, de 37 anos, foi um dos beneficiados pelo projeto. "Fiquei quase um ano na plantação. Fui criado em fazenda, mas nunca tinha mexido de verdade com isso. Mas estava com muita vontade de aprender", diz ele, que já deixou o centro de progressão e voltou a trabalhar na construção civil.
Casado e com uma filha, ele conta que "tentou dar um pulo maior do que a perna" e foi preso por tráfico de drogas. "Estou me recuperando e o serviço me ajudou muito. Quando estava no regime fechado, ele aprendeu a fazer bonés de croché e barquinhos de enfeite para passar o tempo.
Contra o ócio. A iniciativa do viveiro de plantas foi reconhecida no ano passado, quando a Secretaria Estadual da Administração Penitenciária recebeu o Prêmio Governador Mario Covas em excelência de gestão pública.
Para o diretor do Pemano, Silvio Ferreira de Camargo Leite, oportunidades de trabalho e capacitação profissional como essa se refletem positivamente no ambiente prisional, "combatendo o ócio, disciplinando e preparando o recomeço desses indivíduos no meio social". No mesmo local também existe uma capacitação para a fabricação de papel artesanal, em que os detentos aprendem sobre reciclagem.