Com o crescimento da campanha antitabagista no Brasil, tem aumentado o nível de informação da população em relação aos malefícios do cigarro. Além das propagandas que alertam sobre os problemas de saúde causados pelo hábito, o governo brasileiro também tem investido em medidas restritivas como a recente proibição da venda de cigarros aromatizados e o fumo em locais públicos fechados.
Apesar das políticas públicas para o combate do tabagismo, o número de fumantes no país ainda é alto e registra pouco menos de 15% do total da população, segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), órgão ligado ao Ministério da Saúde.
Uma boa alternativa para complementar essas políticas, de acordo com alguns especialistas, é o incentivo ao hábito da prática de esportes, que pode auxiliar o indivíduo a ficar menos suscetível ao vício. Saiba mais sobre essa relação e como o hábito do tabagismo pode interferir no seu desempenho atlético.
O cigarro pode interferir no desempenho do indivíduo durante uma prática de atividade física? Em que sentido e por quê?
Os males do cigarro todos conhecem e não é diferente nos praticantes de atividades físicas. Entre tantos problemas que o cigarro ocasiona, podemos dizer que o estresse oxidativo, que nada mais é que um desequilíbrio no funcionamento das células, continua sendo um grande vilão para os fumantes. Na medida em que a nicotina provoca um desequilíbrio nos níveis de ATP (energia da célula), o rendimento atlético cai sensivelmente. Sem energia disponível, qualquer pessoa fica impossibilitada de executar qualquer movimento vigoroso.
É somente na respiração que o cigarro interfere ou ele também prejudica em outras funções?
O cigarro interfere em vários órgãos do corpo humano. O monóxido de carbono da fumaça do cigarro se liga rapidamente com a hemoglobina sanguínea (transporta oxigênio). Quando esse processo ocorre, denomina-se carboxiemoglobina (COHb), por isso mesmo, o sangue não é tão oxigenado, provocando assim uma diminuição no carreamento de nutrientes para todo o corpo, ou seja, todo o organismo sofre com isso. Para citarmos outros prejuízos do cigarro: os dentes perdem o clareamento, mau hálito (halitose), pode provocar aterosclerose, aumento da pressão arterial, entre outros fatores.
Existem registros de que alguns atletas de alto rendimento, como jogadores de futebol, fumavam e ainda fumam, mesmo em atividade. Para esse tipo de atleta, a influência do cigarro é maior ou menor?Por serem humanos, muitos atletas fumam escondidos, na maioria das vezes. E não há uma estatística para afirmar qual o esporte nacional com maior número de fumantes. O que se observa no futebol, por ser o esporte mais praticado no Brasil, é a evidente queda de rendimento de alguns atletas. Pode-se presumir que o álcool e as noites mal dormidas também contribuem com isso, mas o cigarro em geral é o maior causador.
O hábito de praticar exercícios pode ajudar uma pessoa a parar de fumar?Um achado interessante mostra que as pessoas que praticam atividades físicas regularmente estão menos suscetíveis ao vício do cigarro do que as pessoas que não têm esse costume. Não há evidências científicas de que o hábito de se exercitar pode ajudar uma pessoa a parar de fumar. O que acontece com os "viciados no cigarro" é o contrário, param com a atividade física porque "sentem falta de ar" quando estão em movimento.
Por outro lado, pessoas que fumam há muito tempo não podem ter um risco maior de um problema durante a prática de atividade física?Os grandes prejuízos do cigarro são o aumento da pressão arterial (o corpo é induzido a liberar substâncias vasoconstritoras) e as alterações cardíacas devido ao excesso de trabalho em pressão arterial aumentada. Por isso, os fumantes que praticam atividades físicas que exigem esforços grandes correm sérios riscos.
Qual é a importância de procurar um médico antes da iniciação à prática de esportes?A principal importância é a realização de um check-up e de uma anamnese (entrevista feita por um profissional de saúde) para determinar se o indivíduo está apto a iniciar a prática de uma atividade física.
Dr. Carlos Fernando França Mosquera é doutor em Fisiologia do Exercício pela Universidad Católica San Antonio de Murcia, título revalidado pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professor da Faculdade de Artes do Paraná (FAP).