http://www.odiario.com/blogs/andresimoes/2011/09/13/das-razoes-para-largar-o-cigarro/
por: André SimõesPostado em: 13 de setembro de 2011 às 14:23
As campanhas antitabagistas têm todas um erro de origem: em maior ou menor grau de sutileza, a mensagem é sempre uma variação de “se você fumar, morrerá”. Ora, morrer não é tão assustador assim. Todos nós morreremos, com ou sem cigarro, gordura trans, carne mal passada e exposição a videoclipes da Lady Gaga. Grande coisa.
Em que pese todo o respeito que tenho pela obra do grande Paulo Autran, lembro como achei bobo quando, assim que ele morreu, sua viúva repassou à imprensa a última mensagem do ator, algo próximo de “avise que morri por causa do cigarro”.
Por Deus, o camarada tinha 85 anos! Se nunca houvesse chegado perto de tabaco e tivesse fôlego de atleta, quanto tempo mais conseguiria viver mantendo sua capacidade de trabalho? Não muito, creio eu, embora sempre haja um Barbosa Lima Sobrinho para nos desmentir – não sei se ele fumava.
Não se trata de menosprezar os comprovados malefícios do cigarro, nem a afirmação (verdadeira) de que uma vida sem fumo tende a ser mais saudável, com o sujeito menos propenso a desenvolver uma série de doenças. O negócio é outro: já que querem fazer o mundo deixar de fumar, pelo menos ataquem o ponto certo. Morrer, francamente…
Está certo que tentaram também o “fumar te deixa broxa”, potencialmente muito assustador para a população masculina. Mas no contexto de desenhos infames no verso de maços de cigarro, acaba passando por piada, não ameaça séria.
A constatação também é difícil: jamais haverá mil camaradas em campanha governamental dizendo que não copulam mais e é tudo culpa do Marlboro vermelho. Sobram apenas metáforas visuais infantis de cigarros arqueados e polegares postos para baixo.
Ademais, o número de mulheres fumantes cresce muito mais do que o de homens – pelo menos li isso em algum lugar. Compensa buscar algo de apelo universal.
A ideia veio quando a Lívia me chamou a atenção para a diferença de estado físico entre John Malkovich (só o pó) e Bruce Willis (ainda dá um caldo), sendo que a diferença de idade entre os dois é de meses. Acontece que um come cigarros, enquanto o outro sempre evitou o fumacê.
Há exemplo mais próximo a nós brasileiros. Se alguém, nos anos 70, dissesse que Caetano Veloso ainda seria mais bonito do que Chico Buarque, mandariam o profeta direto ao hospício. E agora, as voltas que o mundo dá, confiram como anda o enrugado Chico, fumante notório, em comparação com o compositor baiano (dois anos mais velho, por sinal), que chegou a ganhar a alcunha de Caretano por evitar as drogas.
Nunca podemos subestimar a superficialidade do ser humano. Uma campanha com o mote “fumantes são feios” tem tudo para ser sucesso: o problema não é morrer, mas sim ficar vivo e horroroso.
A jovem patricinha acha que a morte é realidade distante, fica tentada a dar suas baforadas e fazer um social. Mas ela também gasta tempo e dinheiro com academias, cirurgias e alimentos integrais: não há de querer um troço que a embarangue. Esse, portanto, deve ser o foco.
Eu mesmo ando sensibilizado com o argumento, pensando em largar o cigarro, quero conservar minhas feições gregas por longo tempo. Em todo o caso, já fumo pouco, não por falta de gosto ou zelo com a saúde, mas por indisciplina: ser um viciado exige comprometimento, regularidade de horários – todas essas coisas para as quais não levo jeito.