“Em lugar de dar as costas à realidade de nossa dependência da energia nuclear, é hora de desenvolver uma tecnologia que fortaleça os aspectos de segurança nas usinas. A melhor opção para o Japão é trabalhar internacionalmente para essa meta”, afirmou Kashiwagi. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) apoiou essa opção em um longamente esperado informe divulgado no dia 1º deste mês, no qual critica as medidas de emergência adotadas em Fukushima, ao mesmo tempo em que propõe a adoção de regulamentações universais nas usinas nucleares.
O ativista antinuclear Reiichi Suzuki, criador de um comitê especial para Fukushima com representantes dos setores privado e acadêmico, disse que, entretanto, havia um crescente apoio público à ideia de fechar as centrais atômicas na região. “Nosso objetivo é manter sobre a mesa a aterradora verdade de que a energia nuclear não tem mérito. Não só é insegura, como também constitui uma carga financeira para os cidadãos por causa dos subsídios que devem pagar, e também permite que as empresas ricas controlem nossos recursos naturais”, afirmou.
A catástrofe de Fukushima aumentou a possibilidade de cortes de energia devido ao fechamento dos reatores, o que alarmou a indústria manufatureira. As perdas calculadas e as enormes compensações financeiras representarão um duro golpe para a economia, cujo crescimento cairá para menos de 1% em 2011. Economistas dizem que a escassez energética obrigará mais empresas japonesas a dirigirem seus investimentos para outros países, criando mais desemprego e esgotando os fundos públicos.
O governo prometeu aumentar as energias alternativas para que atendam 20% das necessidades nacionais, bem como adotar uma política nuclear transparente, como demonstrou ao aceitar inspeções da AIEA este mês. “O horror da contaminação nuclear em Fukushima pressionou Tóquio a reconhecer humildemente seus erros passados e prometer uma segurança melhor. O povo espera essas mudanças”, disse o analista internacional Takeshi Inoguchi.
De fato, apesar das pesquisas nacionais, realizadas em maio, mostrarem uma esmagadora maioria de 70% contra a energia nuclear, há sinais de que a preocupação pública, embora não tenha desaparecido, cede lentamente. Um significativo exemplo é a reeleição, no dia 8, de Shingo Mimura como governador da prefeitura de Aomori, onde fica uma central nuclear ativa e há outras quatro em construção.
Mimura, apoiado pelo conservador Partido Democrata Liberal, que promoveu a expansão da energia nuclear no Japão, derrotou sem problemas seus oponentes, que queriam congelar a construção de usinas nucleares. O governador prometeu maiores medidas de segurança durante uma visita aos reatores. A estratégia parece que deu resultado.
Os residentes mais veteranos de Aomori citados pela imprensa local falaram da grande pressão que sentiam ao votar. “Tenho medo e não gosto. Mas o sustento de todos depende da usina nuclear”, disse Junji Takeyama, de 80 anos, ao jornal Asahi, na semana passada. Seu filho e seu neto trabalham em empresas de energia elétrica. Quase metade da população na maioria dos municípios de Aomori depende da Companhia de Energia Elétrica Tohok, como empregados ou fornecedores de serviços.
Os subsídios nas últimas décadas para municipalidades com reatores e usinas processadoras de combustível somam US$ 2,8 bilhões, que foram usados para construir novas estradas, escolas e infraestrutura moderna. Defensores das usinas dizem que esse sistema permitiu a Tóquio fornecer energia estável e impulsionou o crescimento econômico do pós-guerra, facilitando o desenvolvimento da nova tecnologia e de redes sofisticadas de transporte. A tragédia de Fukushima atingiu o Japão quando o país planejava apoiar seus 54 reatores para aumentar sua produção de energia nuclear em 50%. Envolverde/IPS