Os ministros de Meio Ambiente que chegam nesta semana a Durban para a fase final da COP-17, a conferência do clima da ONU, terão diante de si duas tarefas monumentais: além de evitar o aquecimento global, acabar com as guerras no mundo.
Essa ambição um tanto surreal é um dos itens do documento de 130 páginas produzido pelos diplomatas na primeira semana de negociações na África do Sul.
Leia o especial sobre a conferência do clima
Veja galeria de fotos da COP-17
Daqui até sexta-feira, o catatau precisa ser transformado num "mapa do caminho" para o enfrentamento futuro da mudança do clima.
| Mike Hutchings/Reuters | |
|
À esq., ativista imita Jose Manuel Durão Barroso, da Comissão Europeia, e o primeiro-ministro Stephen Harper |
"Parar as guerras, defender vidas e cessar as atividades destrutivas protegerão o sistema climático", afirma o documento, que pede dos 190 países membros da Convenção do Clima das Nações Unidas a "garantia" de que as partes pararão suas guerras e direcionarão os recursos financeiros e os investimentos associados ao esforço global compartilhado de combater um inimigo comum: a mudança climática.
METAS DE REDUÇÃO
As boas intenções do texto --dedica três artigos aos "direitos da mãe Terra"-- estão longe de refletir o clima das negociações.
Na primeira semana, avançou-se pouco em Durban. O tamanho do documento que os ministros precisarão "editar" com suas decisões políticas é uma evidência disso, com previsões genéricas demais e nenhum acordo sobre a parte mais importante do processo: as metas de redução de emissões de CO2.
Porém, há "elementos suficientes para um resultado ambicioso em Durban", nas palavras do negociador do Brasil, André Corrêa do Lago.
O resultado esperado pode ser definido da seguinte forma: os países desenvolvidos cedem à vontade do G77 (o grupo das nações em desenvolvimento) e assinam a continuidade até 2020 do Protocolo de Kyoto, o único (e tímido) acordo internacional de proteção ao clima existente hoje em dia.
Essa segunda fase vigoraria mesmo sem grandes emissores como EUA, Canadá, Rússia e Japão.
O G77, por sua vez, concordaria com o estabelecimento de um novo acordo, a ser implementado em 2015 ou 2020, que obrigasse pobres e ricos a metas de redução de CO2.
LEI
A intenção da União Europeia, patrocinadora do novo pacto, é que a COP-17 defina acordo como "legalmente vinculante", ou seja, um instrumento com força de lei.
A definição do novo acordo seria um sucesso para a diplomacia, mas criaria um problema prático para o clima: as emissões globais precisam atingir o pico até 2020 e cair dramaticamente depois disso para que o mundo tenha alguma chance de limitar o aquecimento global ao nível considerado "seguro" de 2°C neste século.
Com um acordo que entrasse em vigor em 2020, isso não seria possível.
Mas até mesmo os ambientalistas admitem que haverá um "período de transição" nos próximos anos no qual Kyoto será o único tratado.
Kat Watts, especialista em mudança climática da ONG WWF, afirma que isso não significa que o clima ficará sem proteção.
"Existem os compromissos que os países em desenvolvimento assumiram em Copenhague", afirma, citando como exemplo a meta do Brasil de cortar até 39% de suas emissões em 2020 em relação ao que emitiria se nada fosse feito.
A questão agora é o que fazer com os EUA.