Comunidades criam redes wi-fi abertas
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Comunidades criam redes wi-fi abertas


Comunidades criam redes wi-fi abertas

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed776_comunidades_criam_redes_wi_fi_abertas

Por Kate Murphy em 10/12/2013 na edição 776
Reproduzido da Folha de S.Paulo/The New York Times, 3/12/2013; intertítulos do OI
 
Como a maioria das pessoas, Kim Thomas tem uma conexão banda-larga em casa que ela usa para verificar seu e-mail, navegar na internet, ouvir músicas e assistir a vídeos. Mas, diferentemente da maioria das pessoas, Thomas, de 56 anos, que é diretora em uma fundação beneficente em Portland, Oregon, não tem uma conta mensal. Tudo o que ela fez foi comprar um roteador e uma antena para o telhado. Custo total: cerca de US$ 150. Thomas participa do projeto Personal Telco, uma das redes sem fio comunitárias que estão crescendo no mundo todo.
Essas redes alternativas, construídas e mantidas por seus usuários, surgem em um momento em que os provedores de serviços de internet são limitados em número e acusados de cooperar com espiões do governo. “Eu vejo amigos que têm conexão a cabo e suas contas continuam aumentando. Eles não têm controle, mas se sentem dependentes disso”, disse Kim Thomas. Uma rede sem fio aberta é basicamente um grupo de roteadores sem fio interconectados, ou nódulos, que propagam o tráfego entre usuários e também emitem serviços em banda larga a partir de nódulos conectados à internet.
Talvez a maior e mais antiga seja a Athens Wireless Metropolitan Network, ou AWMN, na Grécia, criada em 2002 por pessoas frustradas com o lento avanço da banda larga na cidade. Hoje a rede tem mais de 2.500 usuários em toda a área metropolitana e nas ilhas vizinhas e, em algumas áreas, oferece velocidades de mais de cem megabits por segundo, comparados aos 4 a 7 Mbps da conexão a cabo residencial típica e das conexões DSL (via telefone) nos Estados Unidos.
Código, roteadores e antenas
“É realmente rápida. Mas seu acesso limitado à internet não importa para muitos usuários porque a rede tem seus próprios serviços”, explicou Joseph Bonicioli, presidente voluntário da associação que supervisiona a AWMN. Ele disse que a organização tem suas próprias máquinas de busca, serviços de telefonia VoIP, assim como “fóruns, atividade social e conteúdo como vídeo”.
As redes sem fio comunitárias – ninguém verificou quantas existem, mas provavelmente são milhares em todo o mundo – devem sua existência a avanços relativamente recentes na tecnologia sem fio. Muitas dessas inovações na verdade vêm da radioastronomia. “Houve alguns progressos realmente incríveis nos últimos dez anos”, disse Sascha Meinrath, diretor do Instituto de Tecnologia Aberta, OTI na sigla em inglês, na Fundação New America em Washington, que tem sido o núcleo do movimento de rede sem fio aberta.
Em outubro, o OTI divulgou seu kit de construção Commotion, que oferece instruções passo a passo para montar uma rede sem fio aberta usando código-fonte aberto e roteadores e antenas comprados no comércio. O foco da OTI, que recebeu apoio financeiro do Departamento de Estado dos Estados Unidos, é oferecer instruções para pessoas que vivem em países repressivos em todo o mundo e para ativistas nos EUA.
Experiência social
Como as redes abertas são autônomas em relação à internet, elas não podem ser fechadas por um governo. As redes também são mais difíceis de vigiar porque os dados oscilam de maneira imprevisível entre os nódulos, sem um polo centralizado. “Aí você vê as muitas facetas do governo americano”, disse Meinrath. “A realidade é que exatamente a mesma tecnologia que protege os defensores dos direitos humanos e da democracia no exterior será incrivelmente útil para evitar a espionagem doméstica.”
É claro que quando você deixa os confins da rede aberta e aponta seu navegador para o Facebook ou o Google as proteções desaparecem. Você fica tão vulnerável à vigilância quanto qualquer pessoa. Mas cada vez mais as redes abertas estão diretamente ligadas à espinha dorsal da internet para alcançar maior velocidade e eliminar gateways intermediários e suas restrições. Esse é o caso da Freedom Network em Kansas City, Kansas, assim como de muitas redes europeias que incluem FunkFeuer em Viena, WirelessAntwerpen na Antuérpia e Freifunk em Berlim. “Estamos trazendo a espinha dorsal da internet até o roteador doméstico”, disse L. Aaron Kaplan, especialista em segurança de computadores em Viena e cofundador da FunkFeuer. “Quando há descentralização, a internet se torna mais resistente.”
Muitas redes abertas nem sequer têm acordos de usuários por escrito, embora os administradores digam que ficou entendido que os usuários não têm permissão para gerar tráfego indevido ou interferir no tráfego que passa por seus nódulos. Para ter segurança, eles sugerem que os membros usem uma rede privada virtual como WiTopia ou VyprVPN sobre a criptografia básica de dados das redes, o que é aconselhável sempre que se usa wi-fi em casa ou em um espaço público.
Em Portland, Kim Thomas disse que não se preocupa. “Esta é uma rede voltada para relacionamentos, onde todos estamos pela experiência social, mais que qualquer outra coisa”, disse. “Sabemos que há riscos, mas vimos que as redes comerciais não são imunes à pirataria.”
***
Kate Murphy, do New York Times



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