Casa modular
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28/02/2013 | Notícia | Revista Infraestrutura Urbana - Março 2013
Governo do Rio de Janeiro adota módulos metálicos e constrói uma habitação a cada quatro dias, ao custo de R$ 57 mil a unidade. Moradias serão doadas às vítimas das cheias da região serrana
Casas montadas no município de Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, uma das cidades afetadas pelas chuvas de 2011
O Governo do Rio de Janeiro vai construir 694 casas na região serrana do Estado para abrigar as vítimas das chuvas ocorridas na região em 2011. As moradias já estão em construção e a primeira etapa da obra será concluída neste mês, com a entrega de 150 unidades no município de Nova Friburgo.
Apesar da demora entre a tragédia e o início das construções, a escolha pelo sistema construtivo aponta uma alternativa para a edificação rápida de habitações populares de interesse social: o mobile steel, sistema de módulos metálicos autoportantes constituído de painéis estruturais do tipo sanduíche (aço galvalume + poliuretano + aço galvalume) que formam as paredes interna e externa da casa. As portas e esquadrias metálicas integram os painéis, e a cobertura é composta por telhas termoacústicas de aço preenchidas por poliestireno expandido (EPS). Como todo o conjunto é modular, os componentes dos sistemas elétrico e hidráulico são embutidos nos próprios painéis, evitando quebras no canteiro e agilizando a instalação.
"A grande vantagem da utilização desse método na construção das casas, principalmente as da região serrana do Rio de Janeiro, é a rapidez na montagem do sistema, que permite a entrega de uma unidade pronta em quatro dias, além da limpeza no canteiro", diz o engenheiro civil Diogo Visconti, da Irmãos Fischer, empresa responsável pela tecnologia.
O custo-benefício da solução construtiva também é competitivo. "Trabalhamos com um custo, aproximadamente, 20% abaixo do de uma construção em alvenaria convencional", completa Visconti. Contratada via pregão presencial do tipo menor preço, a construtora Cohabita receberá R$ 39 milhões para a construção das 694 moradias nas cidades de Nova Friburgo, São José do Vale do Rio Preto, Sumidouro, Bom Jardim, Petrópolis e Teresópolis. Em resumo, o custo por unidade da casa modular é de R$ 57 mil.
Normas e avaliações de desempenho |
O modelo de casa modular passou por testes para garantir as condições ideais de uso. As avaliações foram realizadas pela Fundação Luiz Englert e pelo Laboratório de Segurança ao Fogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Confira os resultados: |
- Ensaio de impacto de corpo duro: a parede ensaiada apresenta nível de desempenho compatível com a classificação M (mínimo) da norma NBR 15.575/2010, sendo adequada para o uso pretendido, em relação a impactos de corpo duro.
- Ensaio de impacto de corpo mole: a parede ensaiada apresenta nível de desempenho compatível com a classificação M (mínimo) da norma NBR 15.575/2010, sendo adequada para o uso pretendido.
- Ensaio de compressão axial de painéis: carga crítica de esmagamento da base do painel na ordem de 92 kN, o que corresponde a uma tensão de 1,39 MPa para a seção transversal total (6 cm x 110 cm), adequada para o uso pretendido.
- Ensaio de compressão excêntrica de painéis: atende às prescrições e ao anexo A da NBR 15.575-2:2008.
- Impacto de corpo mole e fechamento brusco de portas: a interação das portas com o sistema de vedação vertical externo e interno apresenta desempenho M (mínimo), sendo adequada para o uso pretendido.
- Segurança ao fogo: excelente desempenho ao fogo, atendendo aos requisitos para fuga dos usuários, satisfazendo as demandas de resistência ao fogo da estrutura e apresentando desempenho superior em termos de impacto sobre a vizinhança.
- Determinação da ignitabilidade do poliuretano expandido (P.U.): chama não atingiu a marca de 150 mm, o que corresponde ao atendimento da norma BS EN ISO 11.925-2.
- Desempenho quanto à reação ao fogo do poliuretano expandido (P.U.): classificação III-A da Instrução Técnica nº10 do Decreto no 56.819.
- Estanqueidade: compatível com o nível de desempenho I (intermediário) - sem manchas na face oposta à incidência de água -, sendo plenamente adequada para o uso pretendido. - Conforto térmico: ótimo potencial para edificações com adequado desempenho térmico. - Desempenho térmico: atende às oito zonas bioclimáticas brasileiras.
- Comportamento de SVVE de painéis à ação de calor e choque térmico: desempenho M (mínimo) e plenamente adequado para o uso pretendido em relação à ação do calor e de choque térmico.
- Conforto acústico: obtido nível de desempenho compatível com a categoria M (mínimo) da NBR 15.575/2010, adequado para o uso pretendido.
- Durabilidade: mostra-se adequada, em termos de durabilidade, para fins pretendidos, em ambientes urbanos, rurais, marítimos e industriais.
- Capacidade de suporte a peças suspensas: a parede ensaiada é compatível com o nível de desempenho M (mínimo), sendo plenamente adequada para o uso pretendido em relação à capacidade de cargas suspensas, considerando o dispositivo de fixação ensaiado.
- Segurança ao vento (análise teórica): a casa está ancorada à fundação e os parafusos são adequados para ancorar o telhado nas paredes. Flexão de parede lateral submetida à carga de vento: atende aos requisitos da NBR 15.575-2 em relação aos deslocamentos laterais máximos e suportam de forma adequada a ação de vento para uma velocidade básica de Vo = 50 m/s (180 km/h).
- Flexão de telhas submetidas à carga de vento: atende aos requisitos da NBR 15.575-2 em relação aos deslocamentos laterais máximos e suportam de forma adequada a ação de vento para uma velocidade básica de Vo = 50 m/s (180 km/h), correspondendo à pior situação do mapa de isopletas do Brasil.
- Arrancamento da parede lateral submetida pela ação de vento: resiste com segurança à carga de tração produzida pela ação de sucção do vento na cobertura. Essa ação do vento corresponde às regiões mais críticas do Brasil, com velocidade básica de Vo = 50 m/s (180 km/h).
- Ensaio de flexão do telhado: resiste com segurança à carga de tração produzida pela ação de sucção do vento na cobertura. Essa ação do vento corresponde às regiões mais críticas do Brasil, com velocidade básica de Vo
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Construção industrial
O projeto do governo carioca prevê uma unidade habitacional composta por sala e cozinha, com 16,08 m², dois dormitórios - sendo um com 8,58 m² e outro com 10 m² - e banheiro de 2,68 m². As paredes têm 6 cm de espessura e os módulos metálicos variam de 30 cm a 1,10 m de largura e 2,45 m de altura. Em média, são utilizados 62 painéis modulares para a estrutura da casa, já com portas e janelas.
As portas são do mesmo sistema das paredes, em módulos de aço. As janelas são de alumínio especial, para que não ocorra oxidação e ionização junto ao painel. Todos os kits de esquadrias já vêm com dobradiças, fechaduras e vidros.
Unidade habitacional é composta por dois dormitórios, cozinha e sala compartilhadas, e banheiro
A cobertura é constituída por 16 módulos de telhas. "A telha, por ser sanduíche, dá um acabamento de forro na parte de baixo. Não há laje, de dentro da casa você vê a própria telha em um perfilado que se assemelha a um forro inclinado de PVC", diz o engenheiro. O pé-direito da unidade tem 2,60 m de altura nas laterais e pode chegar a 3,60 m de altura no centro das paredes, por conta do telhado.
As instalações elétricas e hidráulicas também são compostas por conjuntos pré-fabricados na indústria. "O kit elétrico é composto por chicotes e os ramais já vêm prontos, com os terminais e as fitas isolantes para o acabamento", diz Visconti. A fiação da casa é embutida nos painéis, que já contêm conduítes por onde passam os cabos elétricos.
As instalações hidráulicas se concentram na região do banheiro, segundo Visconti. "Esse é o único cômodo da casa que recebe um forro de PVC, que fica nivelado à altura de 2,60 m. Em cima desse forro é instalada uma caixa-d'água de polietileno ou fibra de vidro de 500 l", diz o engenheiro. A parede que faz a divisa entre o banheiro e a cozinha é chamada de parede hidráulica. É nela que se concentra toda a tubulação hidráulica da habitação modular.
Módulos são fabricados na indústria e já chegam prontos para montagem em canteiro
Montagem
Segundo o coordenador das obras em Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, Nilson Campos, as casas modulares são instaladas em terrenos doados pela prefeitura e com padrões de acordo com o plano diretor de cada município. "Em Nova Friburgo, por exemplo, onde as obras estão mais avançadas, elas estão montadas em terrenos de 10 m x 10 m, mas isso pode variar de cidade para cidade", diz Campos. Para a montagem das casas, são necessários apenas quatro profissionais, que montam uma casa em quatro dias, divididos da seguinte forma: dia 1 - fundação; dias 2 e 3 - montagem de paredes, cobertura e instalações elétricas e hidráulicas; dia 4 - fechamento dos shafts elétricos, limpeza, retirada das películas dos painéis e aplicação de piso cerâmico.
Antes de serem realizadas as etapas de montagem, a prefeitura da cidade onde são instaladas as casas modulares deve realizar o preparo do terreno. Nessa etapa de pré-montagem, é feito o nivelamento do terreno, a terraplanagem e a compactação do solo, se necessário. Só aí é que começam os serviços para a montagem da casa modular, a seguir:
Fundação
A fundação é do tipo radier e possui dimensões de 5,90 m x 6,68 m e espessura de 20 cm. "Não utilizamos madeira de caixaria. A fundação é feita em fôrmas metálicas específicas para a casa modular. Isso reduz o lixo e a sujeira no canteiro", diz o engenheiro Diogo Visconti. O radier recebe a adição de uma tela com vergalhões de aço com espaçamento de 10 cm x 10 cm e a concretagem é executada com concreto de fck 20.
Estrutura
Os painéis modulares chegam ao canteiro direto da fábrica em paletes e começam a ser montados pela região do banheiro, onde recebem as instalações hidráulicas. São três tipos básicos de painéis: módulo "liso", que são as paredes convencionais; módulo "L", que são as peças destinadas aos cantos das paredes; e o módulo "T", com os painéis que fazem a intersecção entre as paredes.
Os painéis são unidos entre si por meio de encaixes macho/fêmea e amarração com cabos de aço, na parte superior, próxima ao telhado, e inferior, próxima ao piso. As peças são fixadas na fundação com a utilização de uma calha em formato "U" de PVC, com fixadores especiais.
Cobertura
A cobertura é composta por 16 telhas sanduíche trapezoidais TPR 35, de aço galvalume preenchido por EPS, pintadas a pó. O EPS garante o isolamento termoacústico ao conjunto, que fica apoiado sobre as paredes e é preso por parafusos. A casa não possui forro interno, pois as telhas já dão esse tipo de acabamento. Segundo o engenheiro Diogo Visconti, do lado de dentro da habitação, as telhas parecem um perfilado que se assemelha a um forro de PVC.
Acabamento
O piso recebe revestimento cerâmico de 40 cm x 40 cm em todos os cômodos da casa. O material é aplicado sobre cimento colante e rejuntamento com argamassa. Para acabamento, utiliza-se rodapé de etileno vinílico acetato (EVA), com altura de 4 cm nos dois dormitórios e sala/cozinha, e rodapé de piso cerâmico com 7 cm de altura no banheiro.
Mobile steel no Minha Casa, Minha Vida
O sistema mobile steel é homologado pela Caixa Econômica Federal na Gerência de Desenvolvimento Urbano (Gidur) de Florianópolis e na Gerência Nacional de Gestão, Padronização e Normas Técnicas (Gepad) do Distrito Federal. A partir dessa homologação, o sistema tem viabilidade prévia para ser utilizado em projetos do programa Minha Casa, Minha Vida, mas mediante limite de até 500 unidades habitacionais. Atualmente, a tecnologia está em processo de aprovação no Sistema Nacional de Avaliação Técnica (Sinat), no Ministério das Cidades, para a obtenção da viabilidade definitiva, que possibilitará o uso do mobile steel em projetos habitacionais de porte superior a 500 unidades. Depois de publicada a Diretriz Sinat é que será definido o instituto técnico avaliador responsável pela elaboração do Documento Técnico de Avaliação (DATec), necessário à concessão de créditos para empreendimentos habitacionais desse tipo.
Reportagem: Carlos Carvalho