http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1028740-moradores-rejeitam-cobranca-para-frequentar-cachoeira-no-rj.shtml
A compra da Cachoeira do Escorrega pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no início de dezembro pegou de surpresa os moradores e comerciantes do município de Visconde de Mauá, na serra fluminense. Eles estão descontentes com a possibilidade da cobrança de R$ 11 para entrar na cachoeira, famosa por ser um tobogã natural.
A queda d'água integra uma área de 37 hectares que o Parque Nacional do Itatiaia --a primeira unidade de conservação criada no Brasil-- comprou por cerca de R$ 1 milhão. A medida faz parte da estratégia de regularização da unidade para torná-la mais atrativa aos turistas e integra o Programa Parques da Copa, dos ministérios do Meio Ambiente e do Turismo.
Próximo da Cachoeira do Escorrega, que fica na região da Maromba, em Mauá, a administração prevê a construção de um centro de visitantes, com banheiros e informações sobre a unidade, além de postos de fiscalização para impedir a entrada invasores ou a depredação. Mas a medida que menos a agrada é a possível cobrança de ingresso para descer no tobogã.
"Sempre fomos na cachoeira e ninguém nunca cobrou nada", disse o gerente da Pousada Cabanas da Fazenda --que fica a 600 metros da Escorrega-- e morador de Mauá, Avaílton Mendes. Ele disse que mesmo sendo área privada, o dono, um alemão que se encantou com a região anos atrás, nunca impediu a entrada ou cobrou ingressos. "Sempre foi de graça", declarou.
Nascido em Mauá, o engenheiro ambiental Halley Soares Hardiman acha uma incoerência ser cobrado ingresso depois de a área ter sido adquirida pelo governo. "É nosso patrimônio", disse. Pondera, no entanto, que um valor acessível poderia ser revertido na organização do estacionamento e no recolhimento de lixo nos dias mais frequentados, como feriados.
"No geral, não vejo muitos problemas [que exijam investimentos altos] porque não têm casas para cima [do rio] que possam causar poluição. E para quem mora lá, para quem está acostumado desde criança a ir aos finais de semana, um ingresso de R$ 11 é muito alto", disse.
Também preocupada com o fluxo de turistas, que contam em Visconde de Mauá com dezenas de cachoeira, mas nenhuma tão "emocionante", a dona da Pousada Amor Perfeito, Goreti Nascimento, também criticou a decisão do ICMBio. "A Cachoeira do Escorrega é parada obrigatória para quem vem, e o pagamento de ingresso não me parece uma boa ideia", disse.
Sem descartar discutir o preço com os moradores, o presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Melo, explicou que a cobrança é feita em todas as unidades de conservação do país, como o Parque Nacional de Fernando de Noronha (PE) e o Parque Nacional da Floresta da Tijuca (RJ). Porém, destacou que o valor não está fechado e vai variar de acordo com o perfil do visitante.
"Parte dos nossos investimentos estão associados a esse processo do turismo e, por isso, são cobrados ingressos", declarou Melo. "Temos valores estabelecidos em função da realidade de cada parque e do tipo de turismo. Fazemos diferenciação entre turista brasileiro, pessoas que estão no entorno da unidade, estudantes, pessoas mais velhas e de baixa renda", afirmou.
Segundo Melo, na tentativa de "resgatar atributos cênicos" do Itatiaia e regularizar desapropriações que não tinham sido totalmente indenizadas desde a ampliação da unidade na década de 1980, cinco áreas foram compradas recentemente pelo Instituto Chico Mendes.
Criado em 1937, o Parque do Itatiaia, cujo nome vem do tupi e significa penhasco cheio de pontas, está na Mata Atlântica e é formado por montanhas que estão entre as mais altas do país. Lá está localizado o Pico das Agulhas Negras, com mais de 2,7 mil metros.