O dia frio que amanhece hoje em boa parte do Brasil pode fazer muito marmanjo engraçadinho perguntar: "Mas e o aquecimento global?" Um cientista menos espirituoso, porém, teria a resposta na ponta da língua. Aproveite agora o frio porque nosso futuro próximo vai ser bem quente. De acordo com um novo relatório compilado por 345 cientistas brasileiros, a temperatura média em todo o País subirá pelo menos 3°C até 2100, na comparação com o fim do século 20. No pior cenário, o aumento pode ser de até 6°C.
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Frio pode ter matado morador de rua em São Paulo Onda de frio mata sete pessoas em São Paulo Derretimento de solo congelado pode liberar dobro de carbono na atmosfera Rio é o mais suscetível a mudanças climáticas do Estado Aquecimento global abre novo caminho para exportações da China Os dados, que levam em conta cenários de menor ou maior emissão de gases de efeito estufa, fazem parte do primeiro relatório de avaliação nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e foram antecipados na edição deste mês da revista Pesquisa Fapesp. O anúncio completo será feito em setembro.
O trabalho traz também mais detalhes de como as mudanças climáticas devem afetar o regime de chuvas nos diferentes biomas do País. Enquanto nos pampas (Região Sul) e na Mata Atlântica do Sudeste pode haver um aumento de até 30% na precipitação, na Amazônia e na Caatinga o cenário será de seca, com redução de até 40% das chuvas.
Projeções de aumento de temperatura e mudança no Brasil e no mundo já vêm há tempos sendo divulgadas, mas a novidade desse relatório é que ele sintetiza o melhor que a ciência conhece sobre os impactos que as mudanças climáticas terão sobre o Brasil. O painel, que reúne pesquisadores das mais diversas áreas, atuou nos mesmos moldes do grupo das Nações Unidas que faz esse tipo de avaliação em escala global - o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Divididos em três grupos de trabalho, eles analisaram as pesquisas publicadas em revistas científicas desde 2007. O primeiro considerou aquelas que mostram a ocorrência das mudanças climáticas no Brasil. O segundo avaliou os impactos disso - nas cidades, nos setores da economia, nos recursos hídricos - e as medidas de adaptação a eles. E o terceiro, as formas de redução das emissões de gases-estufa no Brasil.
O objetivo, explica o pesquisador Carlos Nobre, que preside o painel, é trazer uma "avaliação neutra, baseada em evidências científicas, com um enorme detalhamento sobre o que é importante para nós". Os relatórios do IPCC - o próximo, aliás, também será divulgado a partir de setembro - também seguem esses critérios, mas são globais, com apenas alguns destaques sobre América do Sul e Brasil.