Moacyr Lopes Júnior/Folhapress | |
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Gato teve o bigode queimado durante o incêndio que atingiu um terço da favela do Moinho, na região central de SP |
Cerca de 20 animais, entre cães e gatos, foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros durante o incêndio que atingiu a favela do Moinho, região central de São Paulo, na quinta-feira (22). Até a tarde desta sexta, os bombeiros haviam encontrado dez corpos de animais, que não conseguiram fugir e morreram queimados.
Veja fotos do incêndio no centro de SP
Moradores lamentavam a perda dos seus animais enquanto os bombeiros tentavam conter o fogo na tarde de ontem. Marina Aparecida Meneses, 56, disse que o fogo se alastrou muito rápido no prédio onde ela morava. Ela foi uma das 11 pessoas resgatadas pelo helicóptero da Polícia Milita.
"Eu não sabia se pegava o gatinho que estava dormindo na minha cama ou se pegava meus documentos. O gatinho ficou, acho que morreu. Um minuto que você vai salvar alguma coisa, você pode morrer", disse.
A auxiliar de limpeza Maria Aparecida Novais, 50, abandonou o trabalho após ver na televisão que o edifício onde morava estava em chamas. "Eu estava no meu trabalho e quando cheguei aqui tudo já estava tomado pelo fogo. Perdi tudo tudo tudo! Meus quatro gatinhos morreram também. Não pude socorrê-los", contou, chorando.
Dez viaturas e 34 bombeiros estavam esta manhã na favela e continuam o trabalho de rescaldo e inspeção hoje.
A Defesa Civil mantém a área da linha férrea interditada e seu entorno devido ao risco de desabamento do prédio atingido pelo incêndio.
INCÊNDIO
A favela do bairro Campos Elíseos fica próxima ao viaduto Engenheiro Orlando Murgel, que liga as avenidas Rudge e Rio Branco. O fogo começou antes das 10h e só foicontrolado pelos bombeiros cerca de três horas depois.
Uma grande quantidade de fumaça se espalhou pela região e pôde ser vista até do aeroporto de Congonhas, a 15 km de distância. Foram usados 40 veículos no combate às chamas, com cerca de 200 mil litros de água.
O vento forte e o material inflamável dos barracos espalharam o fogo, que atingiu área de 6.000 m2. A fumaça podia ser vista a 15 km de distância, de Congonhas.
Ao todo, 120 homens foram mobilizados. Helicópteros da Polícia Militar resgataram 11 pessoas ilhadas pelas chamas e as levaram até a quadra de uma escola próxima. Segundo os bombeiros, três pessoas ficaram feridas e foram levadas para hospitais. Dois corpos foram encontrados no edifício atingido.
Um bombeiro também ficou ferido quando uma TV caiu em cima de sua cabeça, ao inspecionar um barraco que não era atingida pelo fogo. Ele foi levado para o Hospital da Clínicas.
A Defesa Civil municipal afirma que metade da favela foi consumida pelo fogo, mas o Corpo de Bombeiros diz que um terço dos barracos queimaram. Segundo o comandante Luiz Humberto Navarro, a área atingida pelo fogo foi de 6.000 m².
A favela do Moinho tem dois tipos de ocupação: uma, de barracos no chão; outra, de habitações precárias instaladas dentro do prédio abandonado do Moinho Matarazzo.
| Editoria de Arte/Folhapress | |
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As chamas chegaram próximas da linha férrea da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e provocaram a interrupção da circulação nas linhas 7-rubi e 8-diamante.
De acordo com dados do Censo, a favela possuía no ano passado cerca de 530 barracos, onde viviam 1.656 pessoas. Já o coordenador da Defesa Civil municipal, Jair Paca de Lima, diz que no local moravam 2.500 pessoas.
LINCHAMENTO
Uma mulher apontada pelos moradores da favela como responsável pelo incêndio teve que ser escoltada para fora da comunidade na noite de ontem.
Ela foi arrastada por cerca de 200 pessoas pelas vielas da favela, sob os gritos de "Lincha, lincha". Moradores dizem que ela botou fogo no barraco em que vivia, e as chamas se alastraram pela favela.
A associação de moradores local impediu o espancamento com um cordão de isolamento e a moça saiu de lá com a Guarda Civil.
Três ministros do governo federal que acompanhavam a presidente Dilma Rousseff em visita à São Paulo estiveram no local do incêndio: Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome).