Cada vez que se aciona a descarga, no mínimo três litros de água são usados para levar os dejetos que poluirão outros milhões de litros de água dos sistemas hídricos ou serão direcionados a caras estações de tratamento de esgoto. Pense quantas vezes você faz isso ao dia. Agora considere quantas pessoas fazem o mesmo…
O banheiro seco foi desenvolvido para ser uma alternativa a esse gasto. Como indica o nome, é um sanitário sem água. A descarga é feita com outro material (normalmente serragem), e os dejetos, que seriam apenas poluidores, viram adubo em uma caixa de compostagem.
Sua tecnologia não é exclusiva – diferentes instituições a divulgam e oferecem. O Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura (Tibá), do Rio de Janeiro, é apenas uma delas, e desenvolveu um banheiro seco batizado de Bason – junção das palavras em espanhol basura (lixo) e abono (adubo).
O Bason é uma caixa feita de placas de cimento. Tem um acento conectado a duas saídas: uma para a urina e outra para as fezes. A urina cai em uma placa inclinada e vai, por um canal, ao lugar estipulado pelo morador. O arquiteto do Tibá, Peter Van Lengen, sugere um reservatório para armazená-la e transformá-la em fertilizante. As fezes vão junto com a serragem para outra câmara impermeabilizada. Com a gravidade e o tempo, caem em uma terceira câmara, onde passam por um processo de compostagem e viram adubo.
Um sanitário usado por duas pessoas deve ter o adubo retirado a cada seis meses. “Uma boa parte das fezes é água e gás. Fora isso, o ser humano gera uma média de dois baldes de fibras por ano. Por isso, a manutenção é feita em longos períodos”, explica Lengen.
Uma das primeiras preocupações de quem não conhece o banheiro seco é o cheiro. Lengen afirma que o Bason não tem nada de diferente de um sanitário comum: a caixa onde os dejetos serão transformados em adubo é separada do acento e conta com um sistema de ventilação. Um cano de PVC pintado de preto esquenta com o sol e aquece o ar do seu interior. Esse ar quente sai pelo cano escuro e puxa o ar frio que entra por outro cano, criando um movimento que dissipa o mau odor.
O sanitário do Tibá ainda conta com um caça-moscas feito de cilindro de vidro (pote de geleia) ou garrafa pet transparente. Como o interior do vaso é escuro, se algum inseto entrar ali buscará a saída pela luz e será atraído para o porte transparente, onde ficará preso e morrerá.
Lengen explica que o Bason pode ser construído com só um saco de cimento de 50 quilos. Para aumentar a resistência, o cimento é preparado em camadas, separadas por sacos de náilon (aqueles de laranja e batata encontrados nos supermercados). Ao todo, são 11 placas. “Com o mesmo cimento você vai juntando as placas, como brinquedo”, afirma o arquiteto. Para decorar o sanitário, você pode fazer um acabamento de madeira, azulejo ou até cimento queimado.
“A grande beleza do Bason é que ele para de poluir as águas que usamos como veículo para levar as fezes, o que é um grande problema dos sistemas hídricos do Brasil e de outros lugares do mundo. O banheiro seco corta isso na raiz”, Lengen.
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Especial para o Terra