Falta água nas torneiras e sobra nas enchentes causadas pelas chuvas de verão. Os rios que correm pela cidade são verdadeiros reservatórios de esgoto a céu aberto, enquanto centenas de outros cursos d´água estão soterrados por asfalto. A questão da água é apenas o mais latente dos impactos que a degradação dos serviços ambientais causa no ambiente e na vida da população paulistana.
O quadro calamitoso que a cidade de São Paulo apresenta em relação às questões ambientais vem sendo sistematicamente ignorado pelo Executivo em todas as suas esferas. Prova disso é a negligência com que as áreas verdes da cidade veem sendo tratadas. Enquanto a população brada por parques, haja vista movimentos como Parque Augusta, Parque Vila Ema, e muitos outros, a Prefeitura articula parcerias público-privadas que podem destinar até R$ 200 milhões para levar mais concreto ao Vale do Anhangabaú.
A distorção de prioridades é escandalosa e se apresenta mais uma vez no impasse do Parque dos Búfalos.
Há cerca de dois meses, meu mandato recebeu um e-mail denunciando que uma grande área de mananciais, no bairro Jardim Apurá, localizado no sul da capital paulista, estava sob ameaça da especulação imobiliária. O e-mail enviado por membros da comunidade local dizia que, unidas, as esferas municipal, estadual, e federal, pretendem construir no local 193 prédios do programa Minha Casa Minha Vida, onde viverão quase 15 mil pessoas.
A aflição da comunidade se legitimava no fato de que o espaço, com 994 mil metros quadrados, margeado pela Represa Billings, é a única área verde da região, onde já vivem 430 mil pessoas. Não bastasse isto, o local ainda abriga sete nascentes que, em tempos de crise hídrica, seriam também impactadas pelo empreendimento.
Nossa sugestão foi que os moradores apresentassem a denúncia à Frente Parlamentar pela Sustentabilidade, o que foi feito. Desde então o assunto ganhou relevância. Foram realizadas diversas discussões envolvendo a comunidade e o Executivo municipal e os principais veículos de comunicação da cidade deram destaque para o tema.
Na esfera estadual, o deputado Carlos Giannazi (PSOL) realizou na Assembleia Legislativa uma Audiência Pública para ouvir as partes envolvidas. Participamos, eu e minha assessoria deste encontro, para o qual o Executivo municipal enviou representantes técnicos da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e da Secretaria de Habitação. Foi para mim de grande surpresa não ver na audiência estâncias decisórias da Prefeitura. O assunto não seria relevante o suficiente?
Estou, junto com alguns colegas vereadores, diretamente envolvido na resolução deste caso. Trata-se de mais uma situação emblemática, que coloca novamente em lados opostos do ringue a urgente questão da moradia na cidade de São Paulo e o meio ambiente.
Em reunião realizada na Prefeitura entre Secretaria do Verde e a comissão de moradores do Parque, o parecer do órgão foi que, o projeto atende os critérios técnicos necessários e, por isso, as licenças ambientais seriam todas concedidas. Não cabe aqui uma extensa análise sobre estes parâmetros, mas não há como negar que são restritos e não tem o poder de avaliar de forma sistêmica o impacto que a depredação daquela área pode trazer. Fico estupefato em observar que eles descartam a possibilidade de que colocar mais pessoas naquela região vai causar degradação na área verde que restar.
O caso do Parque dos Búfalos, como a área que aqui falamos é chamada pelos moradores, é muito triste. A população tem lutado de forma heroica pela preservação e o Executivo parece propenso a tapar os ouvidos e seguir com seu plano de desenvolvimento a qualquer custo, inclusive ignorando uma das principais diretrizes do Plano Diretor Estratégico (PDE), que é o adensamento urbano, e seu próprio Plano de Metas (ver objetivo 14*).
Levar milhares de pessoas para um local onde não há infraestrutura adequada, nem transporte público suficiente, não me parece ser uma ação alinhada com este ideal.
Parque dos Búfalos, Parque Vila Ema, Parque Augusta, entre outros. Nestes dois anos de mandato recebi da população muitas reivindicações e pedidos de ajuda para que as áreas verdes de suas regiões não deem lugar a mais prédios e mais cinza. A população precisa de moradia, mas precisa também de áreas de lazer, de ar puro e de qualidade de vida.
A cidade sustentável é aquela onde convivem harmonicamente o meio ambiente, o desenvolvimento e, principalmente, a vida.
Lutemos por ela!
*Objetivo 14: Proteger os recursos naturais da cidade, conservando as áreas de mananciais, ampliando o sistema de áreas verdes, preservando os recursos hídricos e monitorando as áreas de risco (http://planejasampa. prefeitura.sp.gov.br/metas/? objetivo=14#resultado)
*** Ricardo Young é vereador de São Paulo pelo PPS. Foi presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.