No final do ano passado nasceu em Kaliningrado, na Rússia, o bebê Piotr, que simbolicamente marcou a elevação da população da Terra aos 7 bilhões de habitantes. Piotr representa, ao mesmo tempo, os desafios e as oportunidades que temos pela frente. Afinal, como alimentar mais de 7 bilhões pessoas? Antes de Piotr tornar-se um adolescente, teremos mais 1 bilhão de pessoas no planeta, chegando a 8 bilhões. Ao sair da universidade, ele estará na companhia de outros 9 bilhões de pessoas.
Apesar de todo o progresso que eleva o padrão de vida em várias regiões do mundo, a triste realidade é que o número de famintos no mundo está aumentando. O Programa Mundial de Alimentos nos alerta que há quase 1 bilhão de famintos no planeta, mais que as populações dos Estados Unidos, Canadá e União Europeia juntas.
Somados esses dois desafios, estima-se que a demanda por alimentos, em 2050, será o dobro da que temos hoje. Colocado de outra forma, teremos de produzir, ao longo dos próximos 50 anos, a mesma quantidade de alimentos que produzimos ao longo dos últimos 10.000 anos.
Garantir o fornecimento de alimentos, fibras e energia suficientes exige a solução de uma equação complexa e com muitas variáveis: mudança do padrão da dieta mundial, com o consumo crescente de proteína animal; diminuição da área plantada globalmente em função do avanço da urbanização e da industrialização; problemas de logística e distribuição; utilização crescente de biocombustíveis como fonte de energia alternativa; o aquecimento global; e a necessidade de preservarmos recursos naturais. A saída está em encontrar uma forma de produzir mais, ao mesmo tempo em que conservamos o meio ambiente e melhoramos a qualidade de vida das pessoas.
Hoje, a agricultura já ocupa 1,8 bilhão de hectares no mundo, área equivalente à América do Sul. Ao mesmo tempo, já é responsável por 70% do consumo de água no planeta. Esses valores dão dimensão ao desafio de alimentar 7 bilhões de pessoas. Como dobrar a produção e ao mesmo tempo mitigar impactos adicionais?
Nesse cenário, a tecnologia desempenha um papel fundamental. Foi somente com ela que conseguimos afastar o espectro lançado por Thomas Malthus, que em 1798 previu que a população cresceria mais rápido que a oferta de alimentos. Apesar do aumento populacional, ele foi vencido por pessoas como Norman Borlaug, criador da Revolução Verde e Prêmio Nobel da Paz em 1970, que provou que, com inventividade, podemos, sim, vencer esse desafio. A tecnologia aplicada aos campos impediu catástrofes e nos ajudou a aumentar a produtividade agrícola para níveis jamais atingidos na história, nas regiões que têm tido acesso a essas inovações.
Essa revolução também se deu no Brasil. Há 40 anos, o País era um importador de alimentos. Hoje, somos um dos principais produtores e exportadores mundiais, com papel relevante na missão de mitigar a fome no mundo. De importadores tornamo-nos líderes ou vice-líderes na produção e na exportação de produtos agrícolas como açúcar, carne bovina, café, suco de laranja, soja, etanol e carne de frango. E as previsões para o futuro são ainda mais otimistas. Projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) estimam que o Brasil chegará, em 2020, ao posto de maior potência agrícola do planeta. Como em tantos outros segmentos, os olhos do mundo estão voltados para nós. Contamos com uma grande vantagem: nosso País tem agricultores dedicados, desde aqueles em pequenas propriedades - que buscam tecnologia para melhorar suas vidas e de suas famílias - até os jovens empreendedores, com sólida formação técnica, que escolhem o campo para fazer a diferença no mundo.
A necessidade de encontrar soluções capazes de alimentar o mundo de forma sustentável inspira empresas como a Embrapa, agricultores, governo, instituições de ensino, cientistas e empreendedores. Oportunidades não faltam. São diversas as soluções tecnológicas que proporcionam aumento da produtividade por hectare e eficiência no campo, desde sementes resistentes a pragas e doenças e que geram alimentos mais nutritivos a máquinas agrícolas mais modernas, que permitem plantio e colheita mais precisos e menos perda de grãos, passando por técnicas de irrigação. Ao mesmo tempo, educação, crédito e incentivos são também fundamentais. É importante lembrar que grande parte dos famintos no mundo é de pequenos agricultores que não conseguiram ainda, por falta de acesso a recursos e tecnologia, quebrar o ciclo vicioso da pobreza no campo. Soluções para um mundo mais sustentável passam pela aliança de todos.