Um levantamento em quase cem parques nacionais, estaduais e municipais do País revela que 80% não têm receita gerada por visitação e 21% nem sequer recebem turistas. O estudo, do Instituto Semeia, avaliou o uso público destas e de outras unidades de conservação (UCs) abertas ao turismo a partir de questionários enviados a 443 gestores.
O relatório, em versão preliminar, mostrou ainda que mais da metade dos parques (58%) recebe menos de 50 mil visitas por ano. Em outros tipos de UCs abertos ao público, como Florestas Nacionais e Áreas de Proteção Ambiental, o aproveitamento é ainda menor: 88% não têm receita de turismo e 44% não recebem visitantes.
"Não foi uma surpresa, esperávamos resultado semelhante", admite Ana Luisa Da Riva, diretora executiva do instituto. "Abrir os parques para o turismo significa gasto, então o governo prefere mantê-los fechados."
Segundo ela, uma das explicações para o baixo índice de visitação em UCs, especialmente nos parques, é a estrutura precária para receber o público. "O perfil do visitante atual é o ecoturista, que vai muito mais por aventura. Não há infraestrutura para receber famílias e pessoas comuns", afirma Riva. "Em muito locais não há nem mesmo serviço para atender os visitantes. Ainda há o problema da falta de planejamento. No Parque Estadual de Ilhabela, por exemplo, ainda não há plano de manejo, o que compromete o potencial de uso público."
O relatório aponta que dois terços dos gestores das 200 unidades de conservação analisadas se mostram abertos a parcerias para ajudar na conservação e fomentar o desenvolvimento econômico da região onde estão inseridas as UCs. "É fundamental engajar os gestores, que trabalham com poucos recursos e equipe reduzida para fazer a conservação. Eles enxergam a abertura dos parques como uma coisa positiva", afirma Riva.
Entre as 1.649 unidades existentes no País, pouco mais de mil pertencem a órgãos públicos. A proposta do Instituto Semeia é de promover a integração do setor privado na gestão de UCs. "Os recursos públicos não serão capazes de cumprir as metas estabelecidas de conservação", diz Ana Luisa Da Riva. "O setor privado está de ouvido aberto, mas é um mercado muito novo. O conceito de parceria para conservação como fim principal, e não o turismo, ainda carece de garantias e regulamentações por parte do governo."
Nesta perspectiva, o governo serviria como regulador e operador das unidades de conservação, cabendo às empresas privadas apenas gerenciar os serviços. O modelo segue o que já ocorre em outros setores como saúde, educação e até mesmo administração de presídio. O turismo é apenas um dos aproveitamentos possíveis - um exemplo prático de uso alternativo ocorre na Costa Rica, onde existem centros universitários funcionando no interior de parques.
Crescimento. Dos 69 parques nacionais, 26 estão abertos ao turismo e são administrados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), criado em 2007 para diversificar as atividades de ecoturismo e recreação locais.
Os exemplos de gestão compartilhada mais bem-sucedidos ocorrem no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, e no Parque Nacional da Tijuca, no Rio, que autorizaram a diversas empresas a concessão de exploração de serviços e turismo.
A estrutura adequada, aliada ao grande apelo de seus atrativos naturais, se traduz nos números. Com 1.5 milhão e 2,5 milhões de visitantes, respectivamente, Iguaçu e Tijuca foram responsáveis por cerca de 90% do total de visitações em parques nacionais no País em 2012.
Nos EUA, 2 unidades atraem o triplo de visitas
Enquanto o País registrou seu recorde histórico de 5,5 milhões de visitas em parques nacionais no ano passado, nos EUA há oito parques que, sozinhos, superaram este número. O Sistema Nacional de Parques norte-americano recebeu um total de 282,7 milhões visitantes em 2012 - os dados, porém, incluem uma variedade maior de modalidades, que vão desde sítios históricos a áreas militares.
Existentes desde 1872, com a criação do Yellowstone National Park, os parques nacionais dos EUA abrigam 630 concessionárias que oferecem aos visitantes serviços como hospedagem, transporte e alimentação.
Mas os fortes investimentos do governo americano no setor, apontados como principal fator de sucesso na gestão dos parques no país, criaram uma relação de dependência que tem sido colocada à prova.
No Estado da Califórnia, que passa por graves dificuldades econômicas, o governo chegou a anunciar no ano passado o fechamento de 70 parques - quase um quarto dos parques estaduais locais - para cortar gastos de US$ 22 milhões. Graças ao protesto de ambientalistas e o investimento do setor privado, a medida não foi levada adiante.
Para evitar esta dependência de recursos públicos, Ana Luísa Da Riva, diretora executiva do Instituto Semeia, diz que o País terá de buscar soluções diferentes. "Não é possível copiar nos mesmos moldes porque a realidade é completamente diferente. Historicamente, os parques dos EUA receberam muitos recursos públicos e o governo teve participação decisiva nos modelos de gestão", afirma ela. "O que podemos é aprender com os erros e acertos do sistema norte-americano, que possui mais de 100 anos de conhecimento de gestão dos empreendimentos."
Outro fator apontado pela especialista envolve questões culturais. "Os parques nos EUA são um símbolo de patriotismo. Fazem parte do imaginário e criam até personagens infantis como o Zé Colmeia, que vive em um parque. No Brasil, ainda há um distanciamento muito grande em relação ao público."
Ainda baixos, os números da visitação de parques nacionais no Brasil aumentaram desde que eles começaram a ser coordenados pelo ICMBio, em 2007: em 2006, o total de visitantes era de apenas 1,9 milhão. A meta do instituto é chegar a 8 milhões de turistas por ano até 2016.